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UDOP - União dos Produtores de Bioenergia

Canas: Novos fins para o rejeito industrial (1 notícias)

Publicado em 13 de setembro de 2007

As perspectivas do setor sucroalcooleiro no Brasil são as de retomar o título de maior produtor de álcool combustível do mundo, posição hoje ocupada pelos Estados Unidos. Na corrida pela produção de combustíveis alternativos e menos poluentes, a cana-de-açúcar brasileira é praticamente insuperável no que diz respeito à produtividade de etanol. Porém, praticamente na mesma proporção do aumento da produção de cana para fazer álcool, um rejeito abundante dessa indústria se tornará um problema para o ambiente: o bagaço.

Boa parte desse resíduo pode ser queimado para gerar eletricidade ou, em menor escala, servir como um coadjuvante na produção de ração animal. Mas um uso mais nobre pode ser dado a esse material: o de transformá-lo em um compósito altamente reciclável.

Segundo uma pesquisa realizada na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP — intitulada "Reciclagem de Compósitos Poliméricos Baseados em Fibras de Bagaço de Cana" —, esses compósitos poderiam ter outro destino e ser utilizados na composição de painéis de automóveis, revestimento de móveis e outros materiais e na construção civil, na parte estrutural. Tem sido cogitado também seu uso pela indústria aeronáutica, como revestimento interno de aeronaves. "Eles poderiam substituir principalmente painéis ou mesmo outros artefatos, espátulas, placas, normalmente feitos de plástico", explica o orientador do projeto, professor Adilson Roberto Gonçalves, lembrando que atualmente esses produtos são feitos somente de polipropileno. A pesquisa foi desenvolvida pela aluna de doutorado Sandra Maria da Luz, com a aluna de iniciação científica Juliana Machado da Mota.

Fonte renovável — O trabalho do grupo teve como objetivo juntar um subproduto abundante na indústria alcooleira, o bagaço de cana de açúcar, com o polipropileno, que é proveniente do petróleo, uma fonte não-renovável. Assim os pesquisadores uniram um material de fonte renovável, o bagaço da cana, a um material de fonte não-renovável, o polipropileno, e obtiveram um novo compósito, que apresenta propriedades mecânicas diferentes das propriedades originais do produto. O material encontrado, explica Gonçalves, apresenta rigidez, baixa densidade e um melhoramento da resistência a flexão e cisalhamento em relação ao polipropileno puro.

Segundo o professor, o interessante desse trabalho foi conseguir aproveitar o material obtido mais de uma vez. Ele conta que a filosofia do trabalho foi a de dar uma aplicação a um resíduo agroindustrial, mas sem deixar de verificar as possibilidades de reciclagem do novo material obtido. "Não seria lógico produzir um material que fosse difícil de reutilizar ou que tivesse maiores problemas ambientais do que possui o bagaço", afirma.

No processamento feito, os compósitos obtidos pelo grupo foram moídos e reprocessados em injetora e depois submetidos às diversas caracterizações, a fim de avaliar o desempenho mecânico e térmico após reciclagem. Resultado: as fibras vegetais, que seriam um problema a mais para o ambiente, foram reaproveitadas e, associadas ao polipropileno, deram origem a um compósito passível de múltiplas reciclagens.

O pesquisador destaca que a reciclabilidade desse material após o uso não apresenta perdas significativas de suas propriedades térmicas e mecânicas. Assim, o material feito uma vez com a técnica desenvolvida poderia ser reciclado inúmeras vezes sem retirar nada mais da natureza. "A reciclagem desses materiais resulta em ganho para o ambiente devido à preservação das fontes de matéria-prima, como o próprio bagaço e também o petróleo, além de deixar de emitir CO2 na atmosfera, decorrente da queima desses componentes."

O trabalho, fruto do doutorado realizado por Sandra, alcançou o primeiro lugar do Prêmio Fernando Cerviño Lopez de Reciclagem, promovido pelo Sindicato dos Químicos, Químicos Industriais e Engenheiros Químicos do Estado de São Paulo (Sinquisp) deste ano.

O grupo trabalha com compósitos desde 2000, quando Sandra começou um trabalho de iniciação científica com bolsa da Fapesp Sandra já é experiente ganhadora de prêmios. Ela foi contemplada em 2002 com o Prêmio CRQ-IV Região na categoria Engenharia Química e tem recebido destaque nas apresentações que faz nos congressos nacionais de polímeros. Em 2006 passou seis meses em Portugal com recursos da Capes.

Simone Colombo

Fonte: Jornal da USP