Trabalho feito por grupo internacional, publicado na revista Science, destaca que substâncias derivadas da maconha podem ajudar no tratamento de inflamações e de doenças na pele
Endocanabinóides, substâncias produzidas pelo cérebro com efeitos semelhantes ao princípio ativo da maconha, têm papel importante na regulação de processos inflamatórios.
A conclusão é de estudo feito por um grupo de cientistas de diversos países, publicado na edição atual da revista Science. O trabalho também identificou que os canabinóides endógenos diminuem os efeitos de alergias na pele.
Segundo a pesquisa, feita em camundongos, esses mediadores que transmitem sinais para o sistema nervoso representam um possível caminho para tratar inflamações ou doenças como dermatite de contato.
Os mediadores são parte do sistema endocanabinóide, que regula funções nos sistemas nervosos central e periférico. O grupo coordenado por Meliha Karsak, da Universidade de Bonn, na Alemanha, decidiu investigar a relação entre endocanabinóides e dermatite de contato ao perceber que camundongos de laboratório sem dois receptores específicos coçavam-se muito mais do que os outros e desenvolveram ulcerações na pele.
O princípio ativo da maconha, o tetrahidrocanabinol (THC), atua nos receptores de canabinóide no cérebro, conhecidos como CB1 e CB2. Os cientistas descobriram que bloquear os receptores induziu a formação de ulcerações. Os animais com altos níveis de endocanabinóides apresentaram pouca alergia.
De acordo com os pesquisadores, os resultados destacam a importância de que sejam feitos novos estudos para investigar os efeitos do uso de canabinóides. No estudo agora publicado, os autores verificaram que a aplicação tópica de uma solução feita a partir de componentes derivados da maconha reduziu inflamações e respostas alérgicas.
"Ao aplicarmos solução de THC na pele dos animais pouco antes e pouco depois da introdução do alérgeno, a inflamação resultante foi muito menor. Após o THC se ligar e ativar os receptores de canabinóide, o resultado foi a redução da reação alérgica", disse Thomas Tüting, do Departamento de Dermatologia da Universidade de Bonn, um dos autores do estudo.
Extratos de maconha são usados tradicionalmente em diversas culturas no tratamento de inflamações. No início do século passado, tal alternativa chegou inclusive a ser comercializada em farmácias. Mas, devido a efeitos como a intoxicação promovida pela canabis, o consumo da planta passou a ser considerado ilegal na maioria dos países.
Há duas décadas sabe-se que o organismo humano produz seus próprios canabinóides — substâncias que ganharam tal nome justamente por promoverem efeitos similares aos da maconha.
O artigo Attenuation of allergic contact dermatitis through the endocannabinoid system, de Meliha Karsak e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org.
(Agência Fapesp, 11/6)