Notícia

Sechat

Canabidiol pode ajudar na regeneração dentária, indica estudo in vitro da USP (18 notícias)

Publicado em 19 de março de 2025

Um estudo conduzido na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Forp-USP) indica que o canabidiol pode desempenhar um papel importante na regeneração dentária. Segundo os pesquisadores, a substância estimulou a biomineralização dos dentes mesmo em condições inflamatórias, sugerindo um potencial terapêutico para a odontologia regenerativa.

Os resultados foram publicados no Journal of Dentistry e apontam que o canabidiol, além de incentivar a formação de tecidos dentários, pode atuar como um agente anti-inflamatório. Como destaca a Agência FAPESP, essa descoberta pode beneficiar pacientes com problemas dentários decorrentes de inflamações, como cáries profundas, traumas ou outras condições que afetam a polpa dentária.

Como o estudo foi realizado

Os pesquisadores utilizaram células da polpa dentária de camundongos para testar os efeitos do canabidiol. Inicialmente, essas células foram expostas ao fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), uma substância associada a processos inflamatórios e doenças autoimunes.

Em seguida, as células foram tratadas com diferentes concentrações de canabidiol durante períodos que variaram de 24 horas a sete dias. O objetivo era avaliar a capacidade das células de sobreviverem e funcionarem em um ambiente inflamatório, determinando se a substância extraída da Cannabis sativa possui efeitos bioativos.

Para medir a biomineralização, os cientistas utilizaram um corante chamado vermelho de alizarina, que marca a presença de nódulos de mineralização – estruturas essenciais para a regeneração dentária. Esse processo acontece porque células-tronco mesenquimais da polpa dentária migram para áreas lesionadas e se diferenciam em odontoblastos, células responsáveis pela formação e manutenção da dentina, camada que protege a parte interna do dente.

Efeito anti-inflamatório do canabidiol

Além de estimular a regeneração dentária, o estudo investigou a ação do canabidiol sobre células do sistema imunológico, especialmente os macrófagos. Essas células foram pré-estimuladas com lipopolissacarídeo bacteriano (LPS), um componente da parede celular de bactérias Gram-negativas conhecido por induzir inflamações.

Os testes mostraram que o canabidiol inibiu a produção de mediadores inflamatórios pelos macrófagos, principalmente após 24 horas de exposição. Isso indica que a substância pode atuar não apenas na regeneração dentária, mas também na redução da inflamação local, um fator essencial para o sucesso de tratamentos odontológicos regenerativos.

O que isso significa para a odontologia?

Segundo o professor Francisco Wanderley Garcia de Paula-Silva, coordenador da pesquisa, os achados sugerem que o canabidiol pode ser um agente bioativo promissor para a reparação de tecidos dentários inflamados. No entanto, ele destaca que a pesquisa ainda está em fase inicial e que são necessários mais estudos antes que a substância possa ser aplicada clinicamente.

A próxima etapa envolve a realização de estudos clínicos em humanos para avaliar a eficácia e a segurança do canabidiol. Questões como a melhor forma de administração, dosagem ideal e possíveis interações com outros tratamentos odontológicos ainda precisam ser investigadas.

Desafios e perspectivas futuras

Antes que o canabidiol possa ser utilizado na prática odontológica, ele precisará passar por rigorosos processos de validação e aprovação por órgãos reguladores de saúde. Além disso, a implementação de novas terapias baseadas em canabinoides requer revisões por comitês de ética e estudos independentes para garantir sua segurança e eficácia.

Com o crescente interesse da ciência em explorar os benefícios terapêuticos dos canabinoides, a expectativa é que mais pesquisas sejam realizadas nos próximos anos, abrindo caminho para possíveis aplicações clínicas na odontologia regenerativa.