O professor Antô-nio Zuardi, do De-partamento de Neurologia, Psi-quiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, inicia estudos sobre os efeitos antipsicóticos (relativos à psicose) do canabidiol em seres humanos. O canabidiol é um dos componentes da maconha.
Esta é mais uma etapa do trabalho a que Zuardi se dedica desde o final da década de 1970, quando trabalhou com o grupo do professor Elisaldo Carlini, da Escola Paulista de Medicina da USP, em São Paulo.
Na época, o grupo havia verificado que diferentes componentes da maconha interferem com os efeitos do componente principal, o Delta 9 THC (tetrahidrocanabinol).
A tese de Doutorado estudou a interação entre um desses canabinóides, o canabidiol, com o THC.
"Nós verificamos, já naquela época, que o canabididiol diminui os sintomas de ansiedade e os sintomas psicóticos quando induzidos por doses altas de THC, de acordo com o resultado de testes realizados em voluntários humanos normais", relata Zuardi. A partir daí, diz, "começamos os estudos, inicialmente em animais, os efeitos antipsicóticos do canabidiol. Esses testes mostraram perfil semelhante aos dos ansiolíticos e dos antipsicóticos atípicos.
Em voluntários normais, o canabidiol mostrou o efeito ansiolítico em situações que provocam ansiedade".
Exemplo: falar em público. Na condução dos estudos, a equipe faz testes com voluntários, colocando-os à frente de uma câmera de televisão para verificar as diferentes reações entre os que ingeriram e os que não ingeriram a droga. "Já verificamos que a ansiedade diminui no caso dos voluntários aos quais o canabidiol foi administrado", informa.
O objetivo da pesquisa é verificar se o canabidiol pode funcionar como medicamento contra a ansiedade ou nos casos de sintomas psicóticos, inclusive para aplacar os sintomas mais graves de esquizofrenia.
Pesquisa
Proteção a todo sistema nervoso central
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Austrália mostram que o canabidiol pode proteger o sistema nervoso central, ampliando a sobrevida de neurônios, além de ajudar a deter inflamações e controlar a pressão arterial, segundo publicou a revista Pesquisa FAPESP.
Há indicações de que o canabidiol pode ainda bloquear o crescimento de tumores no cérebro, abrindo perspectivas de que esse composto químico — que nada tem a ver com os efeitos atípicos da maconha — possa ser utilizado sozinho ou em combinação com o mais estudado dos constituintes da planta, o THC.
Notícia
A Cidade (Ribeirão Preto) online