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Cana transgênica tem defesa contra a broca

Publicado em 25 julho 2006

Estudo realizado pelo laboratório de biologia molecular da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), coordenado pelo professor Márcio de Castro Silva Filho, desenvolveu uma planta que se defende de um tipo de praga quando atacada. Trata-se de uma cana-de-açúcar geneticamente modificada, que libera proteína com propriedade inseticida quando atacada pela broca-da-cana, uma praga com forte presença nos canaviais brasileiros e responsável por um prejuízo anual de US$ 500 milhões aos produtores agrícolas.
"Na verdade, o que fizemos foi desenvolver uma nova estratégia para ser utilizada na defesa da cana-de-açúcar contra a principal praga da cultura, e essa estratégia envolve a transformação genética da cana", informa o professor.
As pesquisas resultaram no desenvolvimento de uma planta que percebe quando está sendo atacada pelo inseto e libera proteínas inseticidas para conseguir se defender.
Com relação ao uso da cana transgênica para plantio em escala comercial, o coordenador do estudo destaca que a nova metodologia poderá ser utilizada para controle de insetos pela empresa que negociar com a USP (Universidade São Paulo) e com a FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo), detentoras da patente.
Concluído esse processo de negociação, a empresa terá que cumprir todas as etapas estabelecidas pela CTNBio (Comissão Técnica Regional de Biossegurança).
Márcio de Castro da Silva Filho explica que, desde o início, o objetivo era identificar na cana genes que só eram ativados quando a planta era atacada pela broca.

Broca - O ciclo da broca, segundo informa a assessoria de comunicação da Esalq, tem início no campo, onde um inseto penetra no interior da planta e cava galerias internas, provocando a diminuição da massa vegetal e, conseqüentemente, causando graves perdas na produção de açúcar e álcool.
Os orifícios perfurados pela praga, explica o professor, permitem a entrada de fungos oportunistas que causam algumas doenças, entre elas a podridão vermelha.
Outro aspecto importante é que, no caso da produção do álcool, os microorganismos podem contaminar o caldo e concorrem com as leveduras na fermentação.
O professor Márcio destaca que um dos benefícios que o setor sucroalcooleiro poderá ter com a nova metodologia é a redução nos danos significativos causados pela broca, via transgenia vegetal.
"Na verdade, a planta transgênica só irá produzir as proteínas com atividade inseticida quando for atacada pelo inseto", explica, enfatizando que esta é uma grande vantagem em relação às demais plantas transgênicas resistentes a insetos cultivadas no mundo.
Essas plantas, diferentemente da cana, produzem indiscriminadamente as toxinas inseticidas, mesmo quando não atacadas pelos insetos.
O diferencial, de acordo com o coordenador do estudo, está no fato de se evitar um grande desperdício de energia, além de reduzir a probabilidade de aparecerem insetos resistentes em função da reduzida pressão seletiva.
Para o professor, indiretamente, a cana transgênica melhora a qualidade dos produtos dela extraídos, porque os danos são significativamente reduzidos.
"Sabe-se que associadas aos danos diretos causados pela broca, ocorrem várias doenças, principalmente provocadas por vírus oportunistas", destaca, lembrando que esses fungos penetram pelos orifícios feitos pelas lagartas e interferem no processo de fermentação, além de diminuírem a produtividade de açúcar e álcool.
Márcio de Castro Silva Filho faz parte do projeto "Genoma Sucest-Fun: identificando os genes de interesse biotecnológico", coordenado pela professora Gláucia Souza, associada do Instituto de Química da Universidade São Paulo.
O projeto, apresentado por ela na edição do Simtec 2006, já identificou genes associados ao acúmulo de sacarose, resposta à broca da cana, bactérias endofíticas, estresse hídrico e deficiência de fosfato.