Notícia

Balde Branco online

Cana Hidrolisada Praticidade e custos menores

Publicado em 01 março 2011

Por J.Santos

Quem utiliza cana-de-açúcar picada para alimentar o rebanho sabe da trabalheira que enfrenta todos os dias nessa operação. Porém, com a técnica da hidrólise da cana o trabalho pode ser minimizado e ainda é possível potencializar os benefícios em fornecer esse volumoso, conforme salienta Mauro Dal Secco de Oliveira, zootecnista e professor do Departamento de Zootecnia da FCAV-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Unesp, de Jaboticabal-SP. "Além de reduzir o processo, o produtor também fica livre da fermentação dos restos da cana no cocho e da proliferação de abelhas e moscas".

Informa que os primeiros trabalhos da técnica de hidrólise da cana foram desenvolvidos em parceria com a empresa paranaense Hidrocana. No início foram realizados experimentos com a soda (hidróxido de cálcio) e posteriormente com a cal virgem e hidratada, sendo estes, também com a participação da Fapesp-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. "Desde então a técnica se difundiu por todo o território nacional, o que levou a alguns erros de utilização, principalmente devido ao uso inadequado da cal", assinala o professor.

Ele garante que a hidrólise da cana-de-açúcar com a cal virgem ou hidratada é uma técnica simples e econômica, que pode ser facilmente empregada pelos produtores de leite de qualquer porte com ótimos resultados. "Essa prática traz diversas vantagens, como a melhoria da digestibilidade e o aumento do consumo, além de possibilitar a prevenção de acidose ruminai", diz. Acrescenta a esses benefícios a redução do custo da dieta, evita o desperdício de ração e permite o uso da cana armazenada por até três dias. "Ou seja, resolve os problemas causados pelo uso da cana picada", reforça.

A hidrólise da cana-de-açúcar com o uso da al virgem ou hidratada, feita com preparação de urna solução homogênea na base de 0,5 kg de cal bem misturada em 2 litros de água para cada 100 kg de cana picada. A aplicação da cal sobre a cana pode ser feita com regador (pequena quantidade) ou por meio de kits de aplicação acoplados em tratores (grandes quantidades), revolvendo bem a cana picada.

Oliveira faz questão de salientar que é muito importante que a cana esteja no ponto certo de maturação. "Com cana não madura a hidrólise não ocorre, fazendo com que ela se deteriore facilmente. Além disso, também é muito importante o tamanho das partículas. Deve-se regular a picadeira para se obter as partículas de cana com tamanho entre 4 e 10 mm, para aumentar o contato com a solução hidrolisante", explica.

Cuidado na escolha da cal - outro ponto fundamental é a utilização do tipo de cal correto, que pode ser calcítica ou dolomítica, virgem ou hidratada, com alta concentração de óxido ou hidróxido de cálcio. Jamais se deve utilizar a cal indicada para a construção, pois pode apresentar substâncias tóxicas aos animais, como a dioxina e nitrofuranos. "Se o produtor utilizar a cal inadequada poderá provocar intoxicação e até mesmo a morte de animais", alerta ele.

Acrescenta que no mercado há vários tipos de cales (63 de cal virgem e 75 de cal hidratada). "Apenas uma virgem e uma hidratada são recomendadas para a hidrólise, inclusive, aprovadas pelo Ministério da Agricultura. Se o produtor usar a cal errada, pode causar aumento desproporcional na relação cálcio: fósforo, desbalanceamento nutricional, dentre outros aspectos relacionados com a saúde animal". A solução hidrolisante em contato com as partículas da cana provoca uma reação que leva à ruptura da estrutura da fração fibrosa desse alimento.

Para pequenos produtores, é possível utilizar regadores de metal ou de plástico resistente e distribuir a calda da cal com a água sobre a cana picada. É um processo simples uma vez que o produtor necessitará de pequena quantidade de cana, haja vista o número pequeno de vacas para serem alimentadas. "Para um rebanho de dez vacas em lactação, com consumo diário de 30 kg de cana hidrolisada/vaca (total de 300 kg), o produtor poderá preparar o equivalente a 900 kg, na segunda-feira, Desse modo, somente irá hidrolisar novamente na quarta-feira e, assim, sucessiva-I mente. Isso porque a cana hidrolisada pode ser armazenada por até três dias, sem qualquer problema", relata Oliveira.

Explica que para rebanhos maiores, deve-se utilizar equipamentos acoplados em picadeiras fixas ou móveis. "Nesse caso, se prepara a calda separadamente e se coloca no conjunto. O equipamento realiza a picagem da cana e, ao mesmo tempo, vai sendo aplicada a calda adequadamente", diz. A recomendação é manter a cana hidrolisada em local protegido do Sol e da chuva, podendo ser boxes cobertos. Não há necessidade de cobrir a cana após a aplicação da calda. Alguns produtores colocam a cana hidrolisada enfileirada, no corredor, ao lado do cocho, a fim de facilitar o fornecimento.

Após a aplicação da calda sobre a cana picada, deve-se aguardar em torno de 8 horas para o fornecimento aos animais.Também é preciso que haja uma adaptação do animal à cana hidrolisada, que deve ser fornecida misturada ao concentrado ou a outros volumosos. Quanto ao custo da cana hidrolisada. Oliveira observa que isso vai depender de se a aplicação da calda é feita manualmente ou com kits de aplicação. Em média, o quilo da cana hidrolisada com a cal é de R$ 0,034, correspondendo a R$ 34,00 a tonelada.

Ajuste fino do cálcio e fósforo - a cana

hidrolisada pode ser utilizada como volumoso único na alimentação de vacas leiteiras, proporcionando aumento de produção de leite comparativamente à cana picada e com custo inferior, uma vez que b adicional pela hidrólise é mínimo. No caso de utilizá-la com outros volumosos, por exemplo, silagem de milho, a proporção é de acordo com a minimização do custo da ração. "Quanto maior a proporção de cana hidrolisada em relação à silagem de milho, menor será o custo da dieta. A proporção adequada é de 50% entre ambas", assinala Oliveira.

A formulação da dieta com cana hidrolisada segue o mesmo padrão da formulação para vacas leiteiras, considerando o nível de produção de leite, o peso das vacas e os ingredientes que serão utilizados. Pelo fato de a cana ser hidrolisada com o óxido ou o hidróxido de cálcio, ocorre um adicional benéfico de cálcio. "No entanto, se recomenda ajustar principalmente o fósforo, por dois motivos: a cana tem pouca quantidade de fósforo, e a proporção de cálcio e fósforo aumenta praticamente o dobro", alerta Oliveira.

Ressalta que a cana-de-açúcar hidrolisada deve ser fornecida juntamente com o concentrado. Por vários motivos: necessidade do concentrado para completar os nutrientes e atender aos requerimentos nutricionais diários; equilíbrio do pH do conteúdo ruminai e melhor aproveitamento da ração, face à ação dos microrganismos ruminais. Isso significa que a ração deve ser balanceada sob todos os aspectos, em termos de proteína, energia, minerais e outros componentes.

Durante o processo de hidrólise não é recomendada a adição da ureia, pois ocorre uma reação química que transforma a ureia em hidróxido de amónio, que é volatilizado. Assim, o produtor estará jogando dinheiro fora. "A ureia pode ser adicionada na ração, ou mesmo sobre a cana hidrolisada", recomenda Oliveira. Recomenda a adição de 0,9 kg de ureia + 0,1 kg de uma fonte de enxofre (pode ser o sulfato de amónio) misturado com 4 litros de água e jogado sobre 100 kg de cana hidrolisada. "Com isso, ocorrerá aumento no teor proteico da cana hidrolisada, de 3% para quase 12%.

Em pesquisas realizadas no campus da FCAV/Unesp ficou evidenciado o potencial da cana-de-açúcar hidrolisada com cal viegern ou hidratada sobre a produção de leite. "Rebanho Girolando mostrou aumento de 1,71 kg de leite/vaca/ dia, correspondendo a 11,56% na produção de leite das vacas que foram alimentadas com ração contendo a cana hidrolisada com cal em relação à cana picada", relata, acrescentando que com vacas da raça Holandesa alimentadas com rações contendo a cana hidrolisada e armazenada durante 48 e 72 horas, observou-se aumento de 0,9 kg e 1,55 kg de leite/vaca/dia). Garante que a cana hidrolisada pode integrar a dieta de rebanhos com produção diária de até 25 litros/vaca.

Segundo Oliveira, a cana hidrolisada utilizada depois de 48 a 72 horas traz mais benefícios para o sistema de produção. Em primeiro lugar, por uma questão de logística de fornecimento. "Hidrolisar a cana três vezes por semana permite sua utilização durante - toda a semana, com a vantagem de não precisar cortá-la ou mesmo picá-la nos finais de semana", diz ele, acrescentando mais uma orientação: "quando o tempo da cana hidrolisada completar as 72 horas, o produtor a coloca no cocho de manhã e no final do dia deve desprezar a sobra".

O produtor também pode fazer silagem com a cana hidrolisada. Para isso, deve utilizar cana com a adição da cal virgem. O que varia é a proporção da cal: 1% (1 kg de cal para cada 4 litros de água) para cada 100 kg de cana picada. "O uso da água é para que se consiga a calda devido o uso de 1 kg de cal. Vale lembrar que a ensilagem da cana proporciona perda de matéria seca, porém não deixa de ser outra boa alternativa para o produtor", arremata ele.