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Informe MS

Camundongos sentem oxigênio pela pele

Publicado em 24 abril 2008

Camundongos são capazes de sentir oxigênio por meio de sua pele. Se os níveis estiverem baixos, eles conseguem regular a produção de eritropoietina, hormônio que aumenta a produção de glóbulos vermelhos e permite a adaptação, por exemplo, a locais de alta altitude e com ar rarefeito.

A descoberta, que não implica que tais animais conseguem respirar por meio da pele, foi feita por um grupo internacional de cientistas e publicada na edição de 18 de abril da revista Cell. O estudo contradiz a noção de que a pele dos mamíferos teria pouca relação com o sistema respiratório.

Segundo os autores, se essa capacidade se aplicar a humanos, ela mudará radicalmente os tratamentos de anemia e de outras doenças que exigem dos portadores um aumento na capacidade de produzir glóbulos vermelhos. Outra possibilidade é o uso nos esportes, para melhorar o rendimento dos atletas em competições.

A pesquisa foi feita em camundongos modificados geneticamente. Os cientistas removeram dos animais um gene que permite a músculos dos mamíferos alternarem entre metabolismos aeróbicos e anaeróbicos quando submetidos a baixos níveis de oxigênio.

"Descobrimos algo realmente inusitado: que a pele dos mamíferos, pelo menos em camundongos, responde à quantidade de oxigênio existente e, por meio dessa resposta, é capaz de alterar o fluxo de sangue por sua pele. Isso, por sua vez, muda uma das mais básicas respostas à baixa concentração de oxigênio de que dispomos, que é a produção de eritropoietina", disse Randall Johnson, professor da Universidade da Califórnia em San Diego e um dos autores do estudo.

Essas respostas, segundo os autores do estudo, podem derivar de uma herança mantida pelos mamíferos conforme esses evoluíram a partir de formas mais simples de vertebrados, tais como os anfíbios, que têm os mesmos tipos de canais iônicos que promovem a difusão de oxigênio em suas peles permeáveis, o que é feito pelos pulmões dos mamíferos.

"Anfíbios, especialmente os sapos, respiram por suas peles e são capazes de responder à quantidade de oxigênio no ar ou na água à sua volta. Mas não se esperava que o mesmo pudesse se aplicar à pele dos mamíferos. Do ponto de vista evolucionário, os resultados fazem sentido, considerando o papel importante da pele para a absorção de oxigênio em anfíbios", disse outro autor, Frank Powell, também da Universidade da Califórnia em San Diego.

"Será muito interessante avaliar como esses mecanismos funcionam em humanos e se, por exemplo, diferentes níveis de oxigênio na pele podem afetar a eficiência e a velocidade de adaptação à baixa concentração de oxigênio na UTI de um hospital ou em elevadas altitudes", destacou.

De acordo com os autores, a pesquisa pode explicar por que moradores em algumas regiões do Nepal, Índia e Paquistão, com elevadas altitudes, costumam massagear a pele de recém-nascidos com óleo de mostarda, que promove irritação e estimula o fluxo de sangue pela pele.

"Verificamos que a aplicação de óleo de mostarda na pele de camundongos estimula a produção de eritropoietina. Naqueles países, muitos profissionais de saúde têm tentado fazer com que os pais abandonem essa tradição, mas ocorre que ela pode ser benéfica", disse Johnson.

O artigo Epidermal sensing of oxygen is essential for systemic hypoxic response, de Randall Johnson e outros, pode ser lido por assinantes da Cell em www.cell.com. (Agência Fapesp)