Pesquisa conduzida pela Embrapa e Unicamp aponta que fungos presentes nas raízes ajudam a planta a absorver nutrientes do solo
Duas plantas típicas de solos pobres e ácidos, com desenvolvimento até mesmo em rochas, são o ponto de partida para o desenvolvimento de métodos biológicos de fixação de fósforo à exemplo com o que ocorre com leguminosas como o feijão e a soja e a fixação de nitrogÊnio. Uma pesquisa desenvolvida por Embrapa e Unicamp com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) avaliou duas espécies da família Velloziacea, típicas dos Campos Rupestres, e constatou a presença de microrganismos capazes de tornar esses nutrientes solúveis para a absorção pelas plantas.
“Já se estudou muito sobre a fisiologia dessas plantas com o objetivo de entender como elas crescem nesse ecossistema, mas, pela perspectiva de nutrição associada com os microrganismos, é a primeira vez”, diz Antônio Camargo, primeiro autor do estudo desenvolvido durante seu doutorado no do Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC). Situados na região central do Brasil, os Campos Rupestres são compostos de solos ácidos, pobres em nutrientes, mas também são considerados um hotspot da biodiversidade porque concentram espécies únicas que hoje são ameaçadas pelo avanço da mineração e da pecuária.
“O solo desse ecossistema é extremamente pobre em fósforo e muito ácido, em razão das condições geológicas. Apesar disso, esse ecossistema abriga quase 15% da diversidade vegetal brasileira, o que nos intrigou muito, já que aparentemente trata-se de um ambiente hostil para o desenvolvimento de plantas”, explica Isabel Gerhardt, pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital e do GCCRC e uma das autoras do estudo. Com a descoberta, os pesquisadores esperam abrir caminho para o desenvolvimento de novas soluções biotecnológicas agrícolas visando a aumentar a absorção de fósforo por cultivares agrícolas e, simultaneamente, reduzir o uso de fertilizantes químicos.
Durante o estudo, os pesquisadores sequenciaram o material genético das duas espécies, identificando 522 genomas, dos quais metade eram novos para a ciência. O estudo adicionou 21 novas famílias de bactérias. Ao comparar os genomas das bactérias das plantas que cresceram em rocha e no solo, os pesquisadores constataram que se trata de comunidades bem diferentes que, contudo, compartilham sobreposições de espécies. “O mais interessante é que as bactérias associadas ao fósforo tendem a ser compartilhadas entre as duas plantas e são muito abundantes”, complementa Camargo.
O fósforo é um dos três macronutrientes mais utilizados na adubação de lavouras no Brasil e com menores índices de aproveitamento pelas culturas agrícolas nos solos tropicais brasileiros. Cerca de 55% dos fertilizantes fosfatados são importados, sobretudo das minas do Marrocos, mas também da Rússia, do Egito, da China e dos Estados Unidos.
“Vemos, nesta descoberta, a possibilidade de desenvolver um bioproduto para enfrentar pelo menos três questões importantes para o país. A primeira é a redução da dependência externa de suprimento deste fertilizante, que mostrou sua vulnerabilidade com a guerra da Ucrânia. A segunda é o fato de o fósforo ser um recurso mineral não renovável, que está se esgotando. Por fim, o terceiro ponto é a emissão de gases de efeito estufa. Para cada quilo de fertilizante fosfato, é emitido um quilo de gases de efeito estufa” conclui Rafael Souza, pesquisador associado do GCCRC