Começa nesta segunda-feira (31/10), a campanha científica do Projeto Chuva, coordenada pelo Centro de Previsões do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE, dedicada ao Vale do Paraíba e Litoral Norte paulista. A campanha científica, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), é a quarta de uma série de sete com o objetivo de compreender os diferentes regimes de chuva do país. Experimentos similares foram realizados em Alcântara (MA), Fortaleza (CE) e Belém (PA).
Na abertura da campanha, o coordenador do projeto, pesquisador Luiz Augusto Machado, do CPTEC, fará uma apresentação, às 14 horas, no auditório do Parque Tecnológico da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), onde ficará o centro de operações do experimento e também do SOS Vale do Paraíba, sistema de monitoramento e de alerta para eventos severos. A expectativa com este sistema, segundo Machado, é testar e oferecer uma poderosa ferramenta às unidades de Defesa Civil da região e ao Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), com o intuito de minimizar os impactos das chuvas neste período.
O SOS Vale do Paraíba, sob a responsabilidade do pesquisador Jojhy Sakuragi, do INPE, conta com um sistema geográfico de informações que receberá dados em tempo real do radar e de outros equipamentos do projeto, com capacidade para monitorar a chuva por bairros e ruas, de acordo com a precipitação acumulada. Serão geradas previsões de alta qualidade, de até duzentos metros de resolução, capaz de prever chuvas com duas horas de antecedência.
Na última quarta-feira (26/10), o radar de dupla polarização, para coleta de dados e monitoramento de chuvas foi colocado no alto do prédio do Parque Tecnológico da Univap. Outros equipamentos foram distribuídos estrategicamente em Ubatuba, Caraguatatuba, Paraibuna, Jambeiro, São José dos Campos, Cachoeira Paulista e São Luiz do Paraitinga. Segundo Machado, trata-se de uma infra-estrutura nunca antes montada na região para compreender as nuvens de precipitação, que também permitirá um monitoramento de alta qualidade.
Durante o experimento, previsto para até o dia 22 de dezembro, também será realizada a campanha Geostationary Lightning Mapper (GLM, traduzida como Mapeador Geoestacionário de Relâmpagos), parceria que envolve o INPE, companhias de energia, NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), EUMETSAT (European Organisation for the Exploitation of Meteorological Satellites) e a empresa Vaisala. A campanha fará medidas tridimensionais de descargas elétricas, a serem utilizadas no desenvolvimento de modelos de estimativa de relâmpagos rodados a partir de dados gerados pela futura geração de satélites geoestacionários da NOAA e da EUMETSAT.
Nuvens de chuva – segundo o coordenador do projeto, o experimento irá cobrir dois eventos meteorológicos típicos na região nesta época do ano: a tempestade severa, acompanhada de fortes rajadas de ventos, chuvas intensas, granizo, e que costuma provocar grandes estragos, principalmente nos centros urbanos, como destelhamentos de casas e alagamentos; e a chuva contínua, que permanece por dias seguidos, provocada pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que trazem grandes acumulados em poucos dias devido à permanência de bandas de nebulosidade que se posicionam entre o noroeste e o sudeste do País, faixa que engloba o Vale e Litoral paulista. As chuvas de ZCAS costumam provocar inundações e deslizamentos de terra, como as de São Luiz do Paraitinga (SP) e Angra dos Reis (RJ), em 2010, e em Teresópolis (RJ), no início deste ano.
O projeto definiu sete regiões para a realização da pesquisa de campo, que incluem os principais regimes de precipitação do país. O objetivo é compreender com maior refinamento processos micro-físicos ainda desconhecidos da evolução das nuvens de chuva que ocorrem na escala de alguns quilômetros.
O novo supercomputador do INPE, o Tupã, mais potente que o anterior, trouxe a possibilidade de utilizar modelos numéricos de tempo e clima de maior resolução, com capacidade para descrever processos atmosféricos com maior detalhamento. A expectativa é de que os esforços para transcrever matematicamente os fenômenos observados nos modelos possam gerar previsões mais bem detalhadas, de melhor qualidade e de maior confiabilidade.
Segundo Machado, os resultados da pesquisa também irão orientar as especificações de softwares de estimativa da precipitação por satélite e radar. Também irá apoiar a participação do Brasil no programa Medidas Globais de Precipitação (http://www.aeb.gov.br/mini.php?secao=gpm) - Global Precipitation Measurement (GPM) -, liderado pelas agências espaciais dos Estados Unidos (NASA) e do Japão (JAXA). Durante a visita do diretor da Nasa, Charles Bolden, ao INPE, na semana passada, foi assinado acordo de cooperação para o programa GPM, ao qual o Projeto Chuva está associado.
Os dados da campanha poderão ser aplicados na pesquisa sobre mudanças climáticas, para o melhor entendimento dos efeitos dos aerossóis - partículas suspensas na atmosfera de origem natural ou associadas à poluição - na formação das nuvens de chuva.
Participam do projeto cerca de 50 técnicos, engenheiros, pesquisadores, meteorologistas, entre outros especialistas do CPTEC e ELAT, do INPE, IAG/USP, IAE e IEAv, do DCTA, UNIVAP, NOAA e EUMETSAT e a empresa Vaisala. O Instituto de Geociências da UFRJ também colabora com a campanha, tendo promovido, semana passada, curso dedicado a alunos de graduação.
Mais informações sobre o Projeto Chuva podem ser conferidas na página http://chuvaproject.cptec.inpe.br/portal/br/. Informações sobre o experimento no Vale do Paraíba estão disponíveis em http://mogyb.cptec.inpe.br/portal/saoluis/index.html.
Notícia
CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos