Parcerias internacionais em curso no país têm como foco principal a instalação de novas indústrias voltadas à produção de energias renováveis na fronteira do conhecimento. A visão estratégica para buscar as tecnologias que realmente interessam ao país norteia o trabalho de Alice Pessoa de Abreu, coordenadora de cooperação internacional da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“Estamos estruturando uma série de parcerias com outros países”, confirma, citando a vertente multilateral para o desenvolvimento sustentável junto às Nações Unidas e a perspectiva bilateral de acordos com países como Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia, Estados Unidos e África do Sul. Ainda no capítulo multilateral, Alice destaca o Programa Ibero-Americano de Inovação, integrado pela Argentina, El Salvador, México, Paraguai, Panamá, Peru, Portugal, Nicarágua, República Dominicana e Uruguai.
De forma mais específica, cientistas da academia e do setor industrial- com o apoio de instituições públicas de fomento à inovação tecnológica do país – realizam um esforço conjunto visando criar uma indústria brasileira de biocombustível para aviação, um desafio mundial trazido ao Brasil pela corporação aeroespacial Boeing, dos Estados Unidos. Como primeiro passo em direção ao ambicioso objetivo, foi concluído um estudo que delineia os rumos para a instalação da nova indústria.
O trabalho foi desenvolvido pela gigante americana, em parceria com a nacional Embraer e com Fapesp, agência paulista de fomento à pesquisa científica e tecnológica. “No entanto, precisamos prosseguir com as investigações e desenvolver um ou dois projetos pilotos”, pondera Donna Hrinak, presidente da Boeing do Brasil.
A indústria da aviação está empenhada em reduzir seu impacto ambiental, atingir um crescimento neutro em carbono até 2020 e reduzir emissões de dióxido de carbono em 50% até 2050 (em relação aos níveis de 2005). “O Brasil tem algumas vantagens óbvias, como experiência com etanol e vários outros tipos de matérias-primas renováveis”, lembra Donna, que informa haver parcerias público-privadas (PPPs) dispostas a fazer avançar o projeto. “Agora já temos um plano de voo e é só embarcar”, diz, apostando numa adesão maciça à iniciativa.
A Boeing, a Embraer e a Fapesp escolheram a Unicamp para coordenar o estudo e foram realizados oito workshops em 2012 com a participação de mais de 30 stakeholders do setor privado, de instituições governamentais, de ONGs e da academia. A avaliação incluiu os tópicos mais importantes de agricultura, tecnologia de conversão, logística, sustentabilidade e comercialização.
“É um belo trabalho e com uma novidade importante: a colaboração multi-institucional entre pesquisadores das duas grandes companhias aéreas e das universidades”, destaca Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp. “É um diferencial em relação a uma mitologia de que a empresa entra com o dinheiro e a universidade, com os cientistas.”
Intitulado “Plano de Voo para Biocombustíveis de Aviação no Brasil: Plano de Ação”, o relatório oferece as bases para uma nova indústria de biocombustíveis de aviação. Ela requer combustíveis “drop-in”, isto é, biocombustíveis sustentáveis com características de desempenho equivalente aos combustíveis fósseis utilizados nos motores das aeronaves. Sua viabilidade técnica já foi demonstrada em alguns voos-teste e há esforços de redução de custos a níveis competitivos em várias partes do mundo.
Segundo comenta Fernando Ranieri, diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer, o Brasil é internacionalmente conhecido pela sua grande experiência no uso de biomassa, como etanol de cana-de- açúcar, o óleo de soja para o biodiesel e eucalipto para a polpa de papel. “Por causa destes fatores, o país tem condições de liderar o processo de substituição dos combustíveis fósseis por biocombustíveis na aviação.”
Em outra vertente de aproveitamento de energia renovável competitiva, acaba de ser anunciado um painel de plástico para captação de energia solar de fácil transporte e instalação – e com mercado global. A inovação foi desenvolvida pela CSEM Brasil- associação da brasileira FIR Capital e do Centre Suisse d’Électronique e Microtechnique -, com apoio do BNDES, Finep e Fapemig (esta uma fundação mineira de fomento à pesquisa).
“O Brasil entra para a elite mundial da eletrônica orgânica”, exulta Tiago Maranhão Alves, CEO da CSEM Brasil, que tem um time de excelência com cientistas de dez países na Cidade da Ciência e do Conhecimento, no bairro do Horto, na capital mineira, Belo Horizonte. Sua equipe também é treinada por convênio com o Imperial College London, um dos principais centros de referência em eletrônica orgânica impressa. “Oferecemos a solução customizada, pois o painel tem quatro características a serem modificadas de acordo com seu uso: transparência, cor, formato e resistência às intempéries e mecânicas.”
Ao contrário das placas com silício, as orgânicas, feitas com polímeros e plásticos, são leves, flexíveis e transparentes. Por isso permitem uma utilização mais ampla da energia solar, podendo ser aplicada no revestimento de estruturas transparentes, fachadas, janelas, dispositivos eletrônicos como celulares – e até mesmo em veículos e casas em locais remotos. Além de usos inovadores, essas características permitem uma redução de até 70% do custo total dos sistemas fotovoltaicos tradicionais.
Segundo Alves, para desenvolver as células solares orgânicas impressas (OPV), cujo processo de fabricação é um segredo guardado a sete chaves – inclusive em relação a seus parceiros suíços -, foram investidos mais de R$ 20 milhões. “O pulo do gato é ter um processo de produção de OPV em regime econômico viável”, diz. Para os próximos três anos a empresa contará com mais US$ 19 milhões. Está sendo instalada uma máquina que permite fazer as placas com até 50 centímetros de largura, bem maiores que as atuais de dez centímetros. “Nosso esforço é fazer do Brasil uma das lideranças mundiais no mercado de eletrônica impressa, estimado em R$ 100 bilhões até o final da década.”
Já o Senai pretende criar oito institutos de inovação da indústria brasileira até 2014 para dar apoio à área de P&D com o objetivo de criar novos produtos. Para isso, seu diretor-geral, Rafael Lucchesi, esteve em Berlim, no início de julho, com os presidentes de 14 federações de indústrias estaduais para visita técnica ao Instituto Fraunhofer. Os brasileiros pretendem inspirar-se no modelo adotado pela Alemanha desde 1946. Com 66 unidades, o Fraunhofer integra instituições de pesquisa, empresas e governo. “O primeiro instituto do Senai começará a funcionar ainda neste ano em Curitiba”, antecipa Lucchesi.
Em São Carlos (SP), a empresa Nanox faz esforços para comercializar nos Estados Unidos um bactericida descoberto em parceria com as universidades UFSCar e Unesp e com o apoio da Fapesp, Finep e CNPq, vendido no pais desde 2006. Para isso, contou com o apoio do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), no programa G-lab. Quatro de seus alunos de MBA vieram ao Brasil e fizeram um plano de negócios para a Nanox entrar no mercado americano. “É um bactericida inorgânico, que utiliza entre 10 a 15 vezes menos prata do que seus concorrentes, ao mesmo tempo que mantém a transparência do plástico e aumenta, e até mesmo duplica, a validade de um alimento”, garante Gustavo Simões, presidente da Nanox, que já obteve o registro da Food and Drug Administration (FDA), para comercializar seu produto entre os norte-americanos. A previsão é de que isso aconteça entre três e cinco anos.
INTERNATIONAL PARTNERSHIPS BY LETÂNIA MENEZES
PATHWAYS TO RENEWABLE ENERGY
Group efforts to make Brazil a global supplier of alternative technology
International partnerships in Brazil are focused on installation of new cutting-edge renewable energy industries. Alice Pessoa de Abreu, coordinator of international cooperation at the Brazilian Innovation Agency (FINEP), confirms this strategy, mentioning the multilateral front for sustainable development led by the United Nations and bilateral prospects through agreements with nations like Spain, France, Germany, the UK, Denmark, Finland, Norway, Sweden, the U.S. and South Africa. Abreu also highlights multilateral fronts like the Ibero-American Innovation Program, whose membership includes Argentina, El Salvador, Mexico, Paraguay, Panama, Peru, Portugal, Nicaragua, the Dominican Republic and Uruguay. And on a narrower scope, academic scientists and the industrial sector-through funding from public foundations in Brazil-are working together to create a national aviation biofuel industry, a global challenge brought to Brazil by American aerospace giant Boeing. The first step toward this ambitious goal was a study defining the directions for installation of the new industry. The project was developed by Boeing together with Brazil’s Embraer and FAPESP, the São Paulo Research Foundation. “However, we need to proceed with research and develop one or two pilot projects,” ponders Donna Hrinak, president of Boeing do Brasil.
On another front, a new, easily transported and installed plastic solar energy panel has recently been unveiled for the global market. The innovation was developed by CSEM Brasil- a partnership between Brazil’s FIR Capital and the Centre Suisse d'Électronique e Microtechnique. “Brazil has entered the global elite of organic electronics,” revels CSEM Brasil CEO Tiago Maranhão Alves. Unlike silicon panels, the organic panels made from polymers and plastics are light, flexible, and transparent.
São Carlos, SP-based Nanox is working together with MIT’s G-lab program to sell a bactericide in the U.S. that it discovered together with universities UFSCar and Unesp with funding from FAPESP, FINEP and the CNPq. The product has been sold in Brazil since 2006. “It is an inorganic bactericide that uses 10-15 times less silver than its competitors,” affirms Nanox President Gustavo Simões.