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Camarão vira cosmético e vacina (1 notícias)

Publicado em 19 de julho de 2009

Agência Fapesp

Duas matérias-primas encontradas em grande quantidade no Rio Grande do Sul, a quitosana, um biopolímero preparado a partir da carapaça do camarão, e o poliol, obtido do óleo do grão da soja, são os principais componentes de uma nova substância para incorporação de partículas ou princípios ativos utilizados no preparo de gel para cabelo ou para ultrassonografia, além de entrar na composição de repelente de insetos. Registrado com o nome comercial de Quiol-gel, ele apresenta viscosidade semelhante às substâncias utilizadas atualmente em vários produtos farmacêuticos e cosméticos e fabricadas a partir de polímeros petroquímicos, com a vantagem de ser biocompatível e biodegradável.

“O produto tem uma composição específica que permite a aplicação do material diretamente na pele após a incorporação de ingredientes cosméticos ou ativos”, diz a professora Nádya Pesce da Silveira, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora da pesquisa. Uma das principais características do Quiol-gel é a possibilidade de variar a viscosidade da formulação. É possível obter tanto um gel, como uma pomada, um fluido ou até um spray. Para isso, basta modificar as condições de preparação das macromoléculas de quitosana associadas às moléculas menores do poliol, adequando o pH desejado.

Os estudos que derivaram na formulação do gel começaram com o desenvolvimento de uma nanopartícula de origem biológica, que recebeu o nome de quitossoma, resultado da incorporação da quitosana ao lipossoma, uma nanoestrutura semelhante a pequenas esferas de gordura considerada um excelente sistema de liberação controlada de medicamentos ou substâncias biologicamente ativas. “O diferencial desse sistema para outros similares é o método de preparação, que faz com que a estabilidade da partícula melhore muito”, diz Nádya. Lipídios extraídos da lecitina de soja, um subproduto da produção do óleo de soja, foram associados à quitosana, molécula natural com propriedade antifúngica, para que o sistema ficasse mais estável. “O quitossoma se mantém estável durante um mês em temperatura ambiente sem criar fungos”, diz Nádya. Essa propriedade, aliada ao fato de ser biodegradável e biocompatível, faz dessa nanopartícula um veículo com grande potencial para encapsular ativos biológicos. “Dentro do quitossoma posso colocar uma vacina, um antioxidante, um protetor solar ou até mesmo medicamentos”, explica.