Assim como para o da herança indígena, o afinco tem sido o mesmo para retratar cada um dos temas dos calendários da Fapeal. O coordenador do projeto, o professor Douglas Apratto, revela que cada um nasce de um planejamento, tendo em vista, principalmente, os objetos de estudo pouco conhecidos, sem bibliografia aprofundada ou, até mesmo, os mais polêmicos.
“A ideia é justamente explorar, democratizar os estudos, levar para outros locais. Fazemos um mosaico da cultura, da ciência, da história de Alagoas com vários temas interessantes, onde a bibliografia é escassa. Damos nossa contribuição e, agora que vamos fazer 200 anos de autonomia daqui a dois anos, é interessante que tenhamos esse roteiro de Alagoas”, diz.
Ele conta que a ideia surgiu ao ler uma notícia sobre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que pretendia fazer algo nesses moldes. Com a sugestão do professor, a fundação alagoana foi a segunda a aderir a iniciativa. “Eu vi e disse: ‘Olha, vai sair um calendário, então vamos fazer aqui também’. Levei para a Fapeal, que gostou e aprovou. Hoje todos os estados têm”.
A entidade arca com alguns dos custos – como o da edição que falou sobre a fotografia e foi necessário comprar, e pagar caro, pelas primeiras imagens registradas em terras caetés – e também com a impressão. Já outros gastos, como algumas viagens, acabam sendo pagos pelo próprio Douglas e pela equipe que trabalha com ele na concretização dos volumes.
Feitos em formato de mesa e de parede, os calendários são distribuídos gratuitamente à população e a outros órgãos do serviço público, inclusive das mais diversas partes do Brasil – já os livros são feitos numa outra parceria, diretamente com as gráficas. Isso tem ajudado a difundir o interesse por assuntos relativos ao Estado, inclusive em espaços antes impensados.
Um exemplo é a edição de 2005, que tratou dos tesouros da arte sacra por aqui. “Tivemos [ele e a museóloga Cármen Lúcia Dantas] a ousadia de lançar esse trabalho em Salvador e muita gente prestigiou. Nos diziam que não sabiam que tínhamos também arte sacra. Quando se fala nisso, se lembra de Minas, Salvador e Rio. As pessoas ficam surpresas em saber que temos arte sacra aqui também”, expõe.
Cármen, aliás, é uma das parceiras de pesquisa mais frequentes de Douglas Apratto e participou de quase todos os calendários. São oito deles que contam com o toque da museóloga. Já o primeiro foi feito em parceira com Leda Almeida, que também esteve em outros, e os três últimos tiveram como parceira a Uneal, com os professores Jairo Campos e Clébio Correia. O historiador Golbery Lessa também esteve em um dos anos.
O coordenador ressalta os bons frutos com o trabalho em equipe. “Gosto de trabalhar em equipe, fazer um trabalho conjunto. É bom pesquisar solitariamente, mas é melhor com uma equipe. Conversamos, trocamos ideias, enriquecemos o trabalho. Desde o primeiro sempre tivemos essa noção do coletivo. O CPNq e a Capes, por exemplo, não aceitam pesquisa individual e daí já se tira a importância do coletivo”.
A pesquisa dura, em média, dois anos e precisa ser iniciada com bastante antecedência – os de 2016 e 2017 “já estão no forno”, como diz o professor. Alguns dos assuntos abordados podem ultrapassar esse tempo, como é o caso do próximo, que vem sendo pensado há cerca de quatro anos. Nesse período, o grupo junta material, faz visitas, conversa com pessoas que possam ajudar.
E todo esse exercício tem, ao que parece, surtido efeito. As edições – que têm uma tiragem de mil a dois mil exemplares – e os livros que os acompanham chamam a atenção do público e, atualmente, alguns já são até disputados em sebos. A briga é maior pelos primeiros, que tratam dos engenhos e casas-grandes, da arte sacra e da memória destruída de Alagoas, com a falta de preservação dos prédios históricos.
Não só eles, porém, são lembrados até hoje.
REPÓRTER