O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Cachaça, planejado para ser criado em Araraquara, ganha força na próxima semana, quando um representante da Secretaria Estadual de Ciências e Tecnologia estará na cidade para um encontro com os responsáveis pelos estudos da cachaça na região. A meta do projeto é melhorar a qualidade do produto fabricado em todo Estado, com vistas a exportação. Atualmente, o Brasil produz 1,3 bilhões de litros de cachaça por ano. Quase metade (cerca de 600 milhões de litros) são fabricados no Estado. E menos de 2% são exportados, principalmente para a Alemanha, França, Portugal, Japão e Estados Unidos.
De acordo com o pesquisador João Bosco Farias, professor adjunto do Departamento de Alimentos e Nutrição da Unesp, o interesse do Governo do Estado representa um avanço, embora o projeto já tenha o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Há tempo trabalho em pesquisa sensorial da cachaça e descobri, há algum tempo, que o Instituto de Química da USP de São Carlos também desenvolvia pesquisa com o produto", lembra Farias.
"Hoje, nós estamos concluindo a primeira fase do projeto, enquanto o Instituto de Química da USP já iniciou a segunda fase", explica Farias. "A idéia é que os produtores participem de um programa de controle de qualidade, uma vez que os projetos fazem o levantamento do que é produzido, a aceitação dos consumidores, quais os defeitos da produção e os seus motivos, dando uma solução para os problemas."
ARRANJOS PRODUTIVOS
Um dos parceiros do projeto do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Cachaça de Araraquara é o Sebrae-SP através do projeto de Arranjos Produtivos, que beneficia segmentos de empresários que fabricam um mesmo produto. "Até agora, o Sebrae tem realizado cursos nas regiões onde estão instaladas as destilarias, reunindo pequenos grupos", afirma Farias. "Com a criação do Centro, poderemos trazer esses produtores para Araraquara e ampliar a área de ação. otimizando os esforços para melhorar a qualidade da cachaça paulista."
Farias diz que a intenção é instalar no Centro um alambique onde serão analisados os processos produtivos e levantadas as propostas de melhoria da cachaça de cada produtor. "Além de servir para pesquisa, o local também poderá oferecer treinamento para esses empresários, que poderão colocar em prática nossas propostas sem mexer na sua produção."
Outra vantagem é evitar o deslocamento dos pesquisadores, que acabam se sujeitando às condições encontradas em cada alambique, e que geralmente não são as ideais.
EXPORTAÇÃO
A importância de se buscar a melhoria na qualidade da cachaça está principalmente no mercado externo. Atualmente, o produto enfrenta problemas de identificação no exterior, onde é classificado como rum. Recentemente, o Governo brasileiro deu um passo importante para mudar essa situação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto presidencial que apresenta todas as especificidades da bebida e define o que é caipirinha. O decreto anterior não era claro a esse respeito e o Brasil acabava exportando cachaça como rum ou "outras bebidas destiladas". A decisão brasileira já foi comunicada à Organização Mundial de Aduanas (OMA) e na próxima semana será enviado um documento à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mesmo com essa nova portaria, Farias entende que "a briga está apenas começando". "Hoje, somente o Brasil pode produzir a cachaça", lembra. "Mas ainda temos grandes problemas com a produção, que serão resolvidos a partir da criação do Centro e do envolvimento dos produtores no projeto de melhoria da qualidade."
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