A cachaça produzida nos alam-biques do centro do estado, está em busca de uma identidade regional. Uma parceira entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Instituto de Química de São Carlos (IQSC) - da unidade da Universidade de São Paulo - deve, nos próximos seis meses, coletar e analisar a aguardente produzida nas cidades que ficam num raio de 200 quilômetros de São Carlos.
A primeira etapa do projeto tem como meta definir as características regionais da bebida, para "pontuar os aspectos que podem melhorar a qualidade do produto", afirma Douglas Franco, diretor do IQSC. O objetivo é colocar a região - a maior produtora de cachaça do estudo - numa posição de destaque no mercado de exportação. "Para isso, são necessários alguns ajustes no padrão de qualidade e, assim, atender às exigências do mercado."
Concluída a análise e identificados os problemas eventualmente encontrados na bebida de cada produtor - etapa cujo prazo previsto de conclusão é janeiro de 2003 -. "o próximo passo é promover a padronização na qualidade da bebida", comenta.
Segundo Franco, o trabalho de tipificação possibilitará a verificação de pequenas variações de composição que permitam diferenciar uma aguardente produzida em uma região da aguardente produzida nas demais. "A regional idade agregará valor ao produto, tal qual ocorre na França e na Itália para vinhos finos", afirma Franco.
Segundo ele, com a conclusão do projeto, será possível atribuir à cachaça uma denominação de origem, tal qual já ocorreu com outras bebidas como vinho, conhaque e uísque. Assim como nas regiões de Bordeaux ou Champagne, já existe até uma sugestão para denominar a aguardente de qualidade produzida no centro do estado: "Cachaça das Terras Altas".
De acordo com Franco, o produtor não terá gasto algum com a análise da aguardente. "Além disso, cada empresário terá acesso somente às informações referentes a seu produto." Outra vantagem é que caso sejam detectadas eventuais imperfeições, os produtores receberão acompanhamento técnico gratuito para aprimoramento do produto, para o que serão pleiteados recursos junto à Fapesp - cerca de R$300 mil.
Para Marcos Macedo, diretor da Aguardente Tiquara - que produz cerca de 10mil litros anuais envelhecidos em tonéis de carvalho — o projeto é a oportunidade de valorizar a bebida no exterior. "A marca da minha região agregará valor ao produto, tal como hoje ocorre na região de Minas, onde uma garrafa de Havana é vendida a R$ 300", afirma.
ATRATIVOS PARA O TURISMO
Para o secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável. Ciência e Tecnologia de São Carlos. Francelino Grando, a criação da marca por meio da regionalização da aguardente deverá estabelecer novos atrativos até mesmo para o setor de turismo. "A melhoria esperada da qualidade favorecerá a ampliação das receitas dos produtores, mas também da comunidade do entorno, por meio da geração de novos postos de trabalho", afirma Grando.
Segundo ele, as prefeituras esperam os resultados da primeira etapa do projeto para fazer uma projeção do volume de negócios diretos e indiretos que podem ser gerados na região. "A intenção é ampliar o projeto para todo o estado, para permitir uma melhor definição da cachaça paulista e colocar São Paulo em pé do igualdade com Pernambuco, o maior exportador brasileiro de cachaça."
Os produtores de aguardente que estiverem interessados em fornecer amostras de seu produto para análise podem entrar em contato com o IQSC pelos telefones (16) 273-9970 e (16) 273-9976 ou ainda pelo endereço eletrônico claudiasn@iqsc.sc.usp.br.
Notícia
Gazeta Mercantil