Paulo Afonso — O 1°Encontro do Sertão para a Convivência com o Semi-Árido, aberto quinta-feira última, dia 11, pelo prefeito Paulo de Deus, despertou o interesse dos produtores rurais, principalmente pelos efeitos conjugados das secas sucessivas com os desmatamentos que estão repercutindo nas atividades agropecuárias. Esta preocupação foi atendida pela inclusão do tema Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, tratado pelo diretor da Opara Empreendimentos Agropecuários, Maurício Lins Aroucha. A caatinga está perdendo a queda de braço com o capim-búfalo, que já chegou a ocupar entre 80 e 100% de área em propriedades da região.
Pesquisa realizada pelo ecólogo da Embrapa Evaristo Miranda aponta o cultivo do capim-búfalo, utilizado sobre tudo na alimentação bovina, como a nova ameaça à caatinga. E indica que a ocupação de pasto numa propriedade não deveria exceder 10%. Este tipo de capim, originário do Arizona (EUA) e introduzido no Nordeste do final dos anos 70 e início dos anos 80, alcança em média 80 centímetros. O pesquisador recomenda o plantio racional desta espécie de capim e esclarece que "ele não foi feito para substituir a caatinga".
DESVANTAGENS
Evaristo Miranda inclui entre as desvantagens do capim, comparado com a vegetação nativa, a ausência de frutos e de fibras para a produção do artesanato. "Ao contrário da caatinga, afirma o ecólogo, o capim-búfalo não produz substâncias medicamentosas, lenha, carvão nem madeira para a construção civil". Além disso, acrescenta, "na pastagem também não se encontra a fauna, que contribui para o equilíbrio ambiental e é uma fonte de proteína para as populações nativas. Na verdade, o capim-agulha não passa de um recurso pobre, que serve apenas de alimento para o gado".
A pesquisa da Embrapa foi realizada em algumas propriedades do Vale do São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco, onde este tipo de plantação ocupa até 30% das respectivas áreas, percentual que não poderia ultrapassar os 10% permitidos. Mas está bem abaixo do que se registra em fazendas de Pedro Alexandre, Jeremoabo, Coronel João Sá, por exemplo, nas quais as capineiras se transformaram em capoeiras, hoje derrubadas para o plantio de grãos, em geral por arrendamento a agricultores de outras regiões.
Para realizar o seu trabalho, o pesquisador da Embrapa usou 123 imagens do satélite americano Landsat 7. O mapeamento, realizado em 2001, faz parte do projeto Brasil Visto do Espaço, no qual foram gastos R$ 2,5 milhões, financiados pela própria Embrapa e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além do mapeamento da caatinga, o projeto, coordenado por Evaristo Miranda, conta com imagens da Amazônia. No próximo mês serão lançados os CDs com os mapas divididos por Estado.
O material já se acha disponível na Internet, com resolução 50% inferior.
Notícia
A Tarde (BA)