Pesquisadores do Butantan concluíram que a vacina contra dengue que está sendo desenvolvida no instituto tem alta eficácia.
Cada um dos frascos guarda uma arma poderosa, que vem sendo desenvolvida por pesquisadores do Instituto Butantan há mais de uma década. A etapa mais importante e decisiva desse trabalho é o ensaio clínico de fase 3, que começou em 2016 e está em andamento. Os cientistas acompanham 16 mil voluntários que receberam a vacina contra a dengue.
O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, aos resultados preliminares do estudo.
A vacina da dengue se mostrou segura. A taxa geral de eficácia para prevenir a doença chegou a quase 80% e nenhum voluntário desenvolveu sintomas mais graves da dengue até dois anos depois da vacinação.
A diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos, considera o resultado extremamente promissor.
“Ter uma vacina candidata para dengue que tem a capacidade de reduzir em 80% a doença sintomática é de uma importância muito grande. Quando a gente pensa a dengue como uma doença endêmica no Brasil, a quantidade de casos de dengue sintomáticos que a gente tem, reduzir isso em 80% é bastante significativo”, aponta.
A vacina é a primeira contra dengue desenvolvida por um laboratório nacional. Ela é feita com os quatro tipos do vírus da dengue em circulação no mundo. Depois de enfraquecidos em laboratório, eles são cultivados em células de macaco. Ao ser aplicado, o imunizante induz a produção de anticorpos sem causar a doença.
O diretor executivo da Fundação Butantan, Dimas Covas, acredita que a vacina possa ser incorporada ao calendário nacional de imunização em 2024.
“Esse é o planejamento, um planejamento realista. Já temos a fábrica, a fábrica está pronta, agora é questão de providenciarmos o registro de acordo com a nossa Anvisa e, obviamente, com apoio do nosso Ministério da Saúde”, explica.
Ter uma vacina no horizonte não deixa de ser uma esperança para o país que, mais uma vez, enfrenta uma grave epidemia de dengue. O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde indica que o Brasil deverá encerrar o ano com 1,4 milhão de casos da doença. O número de mortes já é o maior desde 2015.
A infectologista Rosana Richtmann diz que a vacina é a melhor forma de prevenir a dengue e destaca a vantagem do imunizante do Butantan ser aplicado em dose única.
“Quando você tem uma vacina de dose única e você pensa em um programa nacional de imunização, é muito mais fácil você cumprir e ter uma cobertura vacinal adequada do que quando você tem vacinas com mais de uma dose para serem feitas para completar o esquema”, relata.
Por Jornal Nacional