O Instituto e a Fundação Butantan promoveram nesta terça (24) o simpósio satélite Desafios e Oportunidades no Desenvolvimento de uma Vacina de Chikungunya: Impacto na Saúde Pública Brasileira durante o 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP), que ocorre em São Paulo (SP) entre os dias 22 e 25 de setembro.
O simpósio foi realizado no Auditório Principal do Centro de Convenções Rebouças, e contou com a presença da diretoria do Butantan e de pesquisadores que atuam no ensaio clínico da candidata vacinal contra a chikungunya (VLA1553), fruto de uma parceria entre o Instituto e a farmacêutica franco-austríaca Valneva. Participaram também a coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, Livia Frutuoso, o médico virologista do Hospital de Base de São José do Rio Preto Mauricio Nogueira e o epidemiologista Gabriel Ribeiro dos Santos.
Para o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, o simpósio se propôs a discutir o vírus chikungunya e a implementação da vacina no país, levando em conta o trabalho de pesquisa e de transferência de tecnologia.
“O Butantan vem trabalhando com a transferência e a absorção da produção da vacina de chikungunya com a Valneva, com apoio do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação. Agora, está em discussões bastante importantes com o Ministério da Saúde, para, depois que essa vacina for aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], discutirmos qual que é a melhor forma de implementá-la para enfrentar essa doença aqui no Brasil”, disse Esper Kallás.
Para o diretor do Instituto, a escolha de sediar o evento no MEDTROP foi fundamental para trocar experiências com profissionais da área e colaborar com os esforços na pesquisa de doenças negligenciadas. “O Butantan contribui preenchendo um pouco desse espaço, pois traz novas soluções, desenvolve vacinas como a da chikungunya, da dengue e várias outras, que são de importância para a saúde pública brasileira e para a região dos trópicos e subtópicos. Além disso, traz toda a sua força de pesquisadores, de desenvolvimento, de produção, de ciência básica, para ajudar nesse debate tão rico que é o congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.”
Vacina do Butantan
Durante o simpósio, o gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Butantan, Eolo Morandi Junior, deu detalhes do estudo de fase 3 sobre a segurança e imunogenicidade da vacina de chikungunya na população de adolescentes no Brasil.
“É um estudo interessante porque abrange uma população que já teve contato com o vírus previamente. A vacina teve oportunidade de se mostrar segura para essa população, e replicou um resultado verificado em uma população soronegativa e predominantemente adulta dos Estados Unidos, que nunca teve contato com a doença”, explicou o gestor médico.
Eolo destacou também a oportunidade de demonstrar os resultados da candidata vacinal no MEDTROP. “Foi um privilégio trazer para a pauta os resultados desse estudo feito em uma área endêmica como o Brasil, e poder discutir a implementação de uma vacina desse porte aqui no país.”
Diálogo com os pares
O diretor de Matéria Médica do Butantan, José Moreira, que foi o mestre de cerimônias do simpósio, destacou a importância de se abrir o diálogo sobre uma doença que continua a atingir muitos brasileiros, sobretudo quando já há resultados promissores de uma possível nova vacina.
“Esse simpósio é muito importante, dado que estamos prestes a licenciar uma vacina de chikungunya no território brasileiro. Cada vez mais sentimos que a chikungunya é uma doença negligenciada, com vários casos subnotificados, e ter uma vacina para diminuir o impacto da carga da doença é extremamente relevante. O Butantan vem a serviço da vida para mais uma vez fortalecer o complexo econômico e industrial da saúde e dar uma resposta a uma necessidade médica e do mercado”, afirmou.
Para o diretor, o diálogo entre pares sobre a implementação de um novo imunizante fortalece a ciência brasileira.
“O simpósio teve um público bastante variado, com estudantes de medicina, tomadores de decisão das três esferas do governo, pesquisadores, acadêmicos. Essa diversidade contribui para o enriquecimento das discussões que tivemos”, concluiu.
Chikungunya no Brasil
Ainda durante o simpósio, a coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, Livia Frutuoso, mostrou dados epidemiológicos da doença na palestra “Chikungunya no Brasil: epidemiologia e controle”. Ela apresentou o histórico da disseminação do vírus no Brasil a partir de 2013, com um crescimento de casos de 2014 a 2024.
“Em 2013 o vírus chikungunya chega às Américas; até 2017 as epidemias foram concentradas nos estados do Nordeste, mas entre 2018 e 2024 houve a expansão para os estados das demais regiões do Brasil”, afirmou.
Os dados epidemiológicos da doença no Brasil se tornaram instrumento de uma pesquisa apresentada pelo epidemiologista Gabriel Ribeiro dos Santos no simpósio. O estudo Mathematical modelling to inform chikungunya vaccination policies in Brazil, seu projeto de pós-doutorado na Universidade Yale, nos Estados Unidos, utiliza modelagem estatística avançada para compreender melhor a dinâmica de transmissão do vírus para a implementação de novas vacinas contra arboviroses. A pesquisa tem apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Salvador e do Instituto Butantan.
Reportagem: Camila Neumam