O imunizante ainda está sob análise da Anvisa, mas expectativa é que 60 milhões de doses já sejam distribuídas em 2026. Aplicada uma única vez, fármaco vai facilitar cobertura do esquema vacinal
O Ministério da Saúde anunciou a criação da primeira vacina contra a dengue 100% nacional. O anúncio foi feito nessa terça-feira (25). Batizada Butantan-DV, o imunizante será produzido pelo instituto homônimo à vacina.
O fármaco ainda está sendo avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que é a responsável pela autorização do uso da vacina no país. A expectativa é que ela seja liberada já para 2026.
À Agência Brasil, a presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Mônica Levi, disse que no ano que vem devem ser disponibilizadas 60 milhões de doses da Butantan-DV em todo o Brasil.
Apesar de ser insuficiente para toda a população, a presidente aponta vantagens de ter um imunizante produzido completamente em solo brasileiro.
"Não depender de acordos que os laboratórios tenham com outros países, se há surtos ou epidemias, isso permite autonomia”.
“Você vai ter uma produção que atenda a sua população, e isso é fundamental para garantir a quantidade de vacinas para a população que se pretende vacinar," afirma a presidente.
Outras vantagens
A Butantan-DV tem esquema vacinal de apenas uma dose. Para Mônica, isso torna a cobertura vacinal mais eficaz, já que as pessoas nem sempre retornam para completar o esquema.
"Em qualquer faixa etária, mas principalmente nos adolescentes, nas vacinas de múltiplas doses, a segunda ou a terceira sempre têm uma evasão, sempre tem piores coberturas”.
“Sem dúvida, é muito mais fácil fazer campanha pontual de uma dose só do que conseguir completar um esquema maior", garante a presidente.
Outra vantagem do imunizante do Butantan é que ele é tetravalente, ou seja, protege contra os quatro tipos da dengue.
Na última etapa de testes, a vacina teve 79,6% de eficácia geral e 89,2% de eficácia entre as pessoas que já tiveram a doença.
Até a liberação da Anvisa, a vacina aplicada nos postos de saúde continua sendo a QDenga, da farmacêutica japonesa Takeda, e apenas em adolescentes de 10 a 14 anos.
Além disso, a aplicação ocorre em cidades com maior incidência da doença, com exceção das doses próximas do vencimento, que podem ser recebidas por pessoas de outras idades.
Idosos
Mônica diz que espera que novos estudos da Butantan-DV mostrem a segurança e a eficácia da vacina também entre os idosos.
"Os adolescentes internam-se mais e tem mais quadros graves, mas quem mais morre são os idosos. Só que, nas vacinas disponíveis, a faixa etária acima de 60 anos não foi contemplada nos estudos”.
“Mas, no projeto anunciado, há um estudo em populações de outras faixas etárias. Como a vacina do Butantan é de 2 a 59 anos, eu entendo que as outras faixas etárias de interesse são de 60 anos para cima. E isso seria muito importante, porque os idosos tem maior mortalidade", diz a especialista.
Segundo o Painel de Monitoramento do Ministério da Saúde, o Brasil já registrou este ano mais de 439 mil casos prováveis de dengue, com 177 mortes confirmadas.
Em janeiro, a quantidade de casos foi menor do que no mesmo mês do ano passado, quando houve surto da doença, mas superior aos registros de 2023.