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Butantan inaugura laboratório

Publicado em 28 junho 2007

Centro de toxinas pesquisará animais e plantas


Herton Escobar escreve para "O Estado de SP":

Pesquisadores abriram ontem uma nova temporada de caça a moléculas da biodiversidade brasileira com a inauguração das novas instalações do Centro de Toxinologia Aplicada (CAT) do Instituto Butantan.

O projeto, de US$ 7 milhões, nasceu de uma parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e quatro laboratórios da indústria farmacêutica nacional.

Em operação desde 2000, o CAT busca cumprir uma das maiores promessas da ciência brasileira, que é a identificação de moléculas naturais de interesse farmacológico a partir das toxinas de espécies da fauna e flora nacionais.

O portfolio desenvolvido nos últimos sete anos já inclui 11 patentes depositadas e licenciadas para empresas farmacêuticas, que então tentam transformar esse conhecimento científico em medicamentos de fato.

Os laboratórios, que antes estavam espalhados pelo Butantan, foram reunidos sob um único teto, completamente reformados e embutidos com novos equipamentos - uma diferença logística e tecnológica que, segundo os cientistas, deverá permitir um salto significativo nas pesquisas.

"O que havia antes era uma república de laboratórios", disse ao Estado o coordenador do CAT, Antonio Carlos Martins de Camargo. "Agora podemos dizer que temos um centro de verdade."

A lista de moléculas já identificadas pelo centro inclui proteínas isoladas do veneno de serpentes, taturanas, e até da saliva de uma espécie de carrapato, com propriedades anticoagulantes.

Entre as descobertas mais recentes está uma proteína com efeito antiinflamatório isolada da toxina do peixe niquim, típico de águas salobras do Norte e Nordeste. Extremamente venenoso, o peixe é ignorado (de fato, evitado) pelos pescadores, mas pode virar objeto de cobiça nos laboratórios.

Autoridades presentes à inauguração do centro destacaram a importância do trabalho conjunto entre academia e iniciativa privada. O CAT é um caso raro desse tipo de parceria, que ainda enfrenta forte resistência na maioria das instituições públicas de pesquisa do país.

"A parceria com empresas é absurdamente essencial", disse o diretor do Instituto Butantan, Otávio Azevedo Mercadante. Só assim, segundo ele, é possível transformar o conhecimento científico em resultados concretos (produtos) que podem, efetivamente, melhorar as condições de saúde da população.

Dez por cento dos US$ 7 milhões investidos no projeto foram bancados pelo Coinfar, um consórcio farmacêutico formado pelos laboratórios Biolab/Sanus, União Química, Biosintética/Aché e Cristália - todos nacionais.

Como parte do acordo, as empresas também se comprometem a arcar com os custos de patenteamento das moléculas que desejarem licenciar.

"Como cientistas estamos fazendo a nossa parte. Cabe agora à indústria e ao governo perceber que é preciso agregar valor a esse conhecimento", afirmou Camargo.

(O Estado de SP, 28/6)