Instituto e vereadores buscam alternativas para diminuir impacto ambiental de obras necessárias ao aumento da produção
A necessidade de novas da fábrica de vacinas do Instituto Butantan, em São Paulo (SP), colocou a entidade em rota de colisão com a oposição, associações de moradores e de proteção ambiental, ao prever a derrubada de mais de 6 mil árvores. Nos últimos meses, Butantan e vereadores buscam alternativas para aumentar a produção, diminuindo o impacto ambiental.
O projeto de lei 691/2025, que altera o Plano de Intervenção Urbana (Piu) para o território do Arco Pinheiros, aprovado em 2024, está em tramitação na Câmara de SP desde junho deste ano e foi aprovado, em primeira votação, antes do recesso parlamentar. O texto, porém, deve passar por alterações antes de ir à segunda votação.
Foi um dos projetos polêmicos do primeiro semestre da Casa, que teve guerra de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), processos na corregedoria e audiência sobre o transporte remunerado de passageiros por motocicletas.
Segundo o Instituto Butantan, ligado ao governo do estado, o projeto vai permitir a construção ou ampliação de fábricas de vacinas, como DTPa (Difteria, Tétano e Coqueluche), Vírus Papiloma Humano e o novo prédio para envase e liofilização de vacinas.
A entidade deve lançar ainda esse ano a primeira vacina 100% nacional contra a dengue , doença que matou 5.972 pessoas no país em 2024. Em abril, o instituto conseguiu, junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a aprovação do registro da vacina contra chikungunya, desenvolvido pela farmacêutica franco-austríaca Valneva, em parceria com o Butantan.
Butantan entre vacinas e árvores
O primeiro texto de alteração do Piu do Arco Pinheiros, aprovado pela Câmara de SP, previa a derrubada de 6.600 árvores para a construção de seis novas fábricas de vacinas. A proposta enfrentou forte resistência de parlamentares, moradores e ambientalistas, na audiência pública de julho.
Segundo a assessoria de imprensa do vereador Nabil Bonduki (PT), a direção da entidade recebeu parlamentares da oposição e se colocou disponível para discutir o projeto. O petista chegou a redigir substitutivo que não foi apresentado na Câmara, mas foi entregue ao Butantan.
Partes da proposta apareceram no substitutivo apresentado pela direção do instituto em audiência pública do início de agosto. A área do Butantan foi dividida em quatro perímetros, com autorização de altura maior de prédios e instalação de indústrias em apenas dois deles.
Nas contas da entidade, isso faria com que o número de árvores a serem derrubadas passassem de 6.600 para 1.650, sendo, apenas 150 nativas. O Butantan também anunciou, na audiência, o plantio de 9 mil árvores nativas em sua área e entorno.
“Essa proposta beneficiará a todos. Por um lado, mantemos nosso compromisso de ampliar o acesso da população brasileira à saúde, com a produção de vacinas, soros e imunobiológicos que salvam vidas todos os dias por meio do SUS. Por outro, vamos preservar e recuperar a Mata Atlântica do Instituto Butantan”, diz Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, em texto encaminhado pela assessoria de imprensa.
A nova proposta agrada parlamentares da oposição e deve facilitar a tramitação do projeto, ainda que a base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tenha número suficiente para aprovar a proposta. Vereadores de esquerda, porém, admitem que algumas associações ainda fazem pressão para que nenhuma árvore seja derrubada.
Nabil Bonduki (PT) defende também que futuras novas ampliações, além da verticalização que passaria a ser autorizada, fossem realizadas em outras regiões, como no distrito do Jaguaré, na zona oeste, de perfil mais industrial. Essa proposta, não foi comentada pelo instituto.
Nova mudança
Após a audiência pública em que o Instituto Butantan apresentou a proposta alternativa que diminuiu o impacto ambiental da ampliação do parque fabril, o governo municipal apresentou novo substitutivo em que libera o loteamento total do terreno da entidade.
Segundo denúncia do gabinete do vereador, o novo texto permite a supressão total da vegetação, sob alegação que não se trata de Mata Atlântica em estado médio ou avançado de regeneração.
Na audiência pública da semana passada, que não contou a presença do diretor da entidade, os vereadores cobraram as mudanças entre o que foi apresentado por Kallás e o novo substitutivo. O líder do governo na Casa, Fábio Riva (MDB), prometeu que o texto ainda passará por mudança, ouvindo os parlamentares, em busca de um equilíbrio.
A ampliação da capacidade de produção de vacinas do Butantan contará com financiamento de R$ 386 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O aporte foi aprovado no ano passado.
A Prefeitura de São Paulo foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até a publicação da matéria.