Diagnósticos atuais detectam a doença apenas em estágio avançado; número de mortes pode chegar a 40% nos casos graves
Em 2023, Minas Gerais registrou 100 casos de leptospirose e seis mortes causadas pela doença, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde. A doença, transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira, tem uma alta mortalidade. Segundo o Ministério da Saúde, o número de óbitos pode chegar a 40% nos casos graves.
Para diminuir as mortes no país, o Instituto Butantan desenvolveu um teste capaz de diagnosticar a doença ainda no estágio inicial. Os testes atuais só identificam os anticorpos quando a infecção já está avançada, o que prejudica o prognóstico e o tratamento, aumentando as chances de morte.
“No diagnóstico convencional, o soro do paciente é colocado em contato com Leptospiras vivas, que se aglutinam na presença de anticorpos [resultado positivo]. O problema é que demora mais de 10 dias para o indivíduo produzir esses anticorpos aglutinantes, dificultando a identificação precoce da doença”, explica o primeiro autor da pesquisa Luis Guilherme Virgílio Fernandes.
Teste facilita diagnóstico precoce
Ainda em fase inicial, a estratégia conseguiu detectar a doença em mais de 70% dos pacientes que tinham testado negativo nos primeiros dias de sintoma. O novo teste também mostrou 99% de especificidade, ou seja, ele é capaz de identificar apenas os anticorpos produzidos pelo corpo humano contra a leptospirose.
A inovação também resolve outro problema dos diagnósticos clássicos. Como o teste exige que o laboratório tenha uma grande coleção de bactérias Leptospiras vivas e uma expertise significativa dos profissionais que o aplicam, ele é feito somente por laboratórios de referência, o que acaba reduzindo o seu acesso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a leptospirose como uma doença subnotificada. A estimativa é que 500 mil novos casos ocorram a cada ano em todo o mundo.
Com a nova estratégia, desenvolvida pelo Butantan, o objetivo é diagnosticar a doença ainda na fase inicial, possibilitando o tratamento precoce e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
O que é a leptospirose?
A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda, que ocorre tanto em humanos como em animais. A contaminação de pessoas é mais comum em épocas de chuva intensa e enchentes, por meio do contato com a urina de ratos infectados.
De acordo com o Instituto Butantan, a doença é difícil diagnóstico, já que provoca sintomas semelhantes à gripe ou dengue. O paciente costuma sentir febre, calafrios, dor de cabeça e dor no corpo.
Em 5% a 15% dos casos, a doença evolui para a forma grave, causando danos em diferentes órgãos, especialmente no fígado e rins. A leptospirose também pode desencadear, em casos mais raros, uma síndrome de hemorragia pulmonar, com taxa de letalidade superior a 50%.