Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan já está desenvolvendo um produto composto por anticorpos para combater o novo coronavírus – SARS-CoV-2 – causador da COVID-19.
Eles são chamados de anticorpos monoclonais neutralizantes e serão selecionados de células de defesa do sangue de pessoas que se curaram da doença.
A ideia, segundo o Butantan, é encontrar uma ou mais dessas proteínas com a capacidade de se ligar ao vírus com eficiência e neutralizá-lo.
As moléculas mais promissoras poderão, então, ser produzidas em larga escala e usadas no tratamento da doença.
O trabalho é coordenado pela pesquisadora Ana Maria Moro e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.
Fase avançada
o projeto utiliza uma plataforma criada para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais humanos para diversas enfermidades, que está em fase avançada para obtenção de anticorpos monoclonais para o tratamento de zika e tétano.
“Iidentificamos uma composição de três anticorpos que neutralizam a toxina do tétano.
Depois, estabelecemos um acordo com a Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, sob coordenação de Michel Nussenzweig, para gerar linhagens celulares para mAbs antizika, que foram identificados no seu laboratório durante a epidemia da doença, em 2015”, explica a coordenadora à Agência Fapesp.
“São dois mAbs neutralizantes que poderão ser usados na proteção de gestantes em caso de retorno da circulação desse vírus.
É um processo longo, mas já estamos começando o trabalho com o novo coronavírus”, acrescenta a pesquisadora.
Plasma
O estudo segue um princípio parecido com o da transferência passiva de imunidade – técnica que consiste na transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas da COVID-19, que também está sendo desenvolvida no Brasil.
O plasma – parte líquida do sangue – dos pacientes que se curaram é naturalmente rico em anticorpos contra a doença.
Ao entrar na corrente sanguínea de uma pessoa doente, essas proteínas começam imediatamente a combater o novo coronavírus.
Ainda não se sabe exatamente quais anticorpos estão combatendo o microrganismo.
Além disso, diferentes doadores podem ter quantidades maiores ou menores dos chamados anticorpos neutralizantes, que não só reconhecem como eliminam o vírus.
A técnica de transferência passiva de imunidade depende ainda de constantes doações de plasma para manter os estoques.
Voluntários
A primeira parte do trabalho é o recrutamento de voluntários convalescentes da COVID-19, em parceria com a Universidade de São Paulo – USP, onde Ana Maria Moro também é professora, e com a Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Com o sangue coletado dos voluntários, os pesquisadores realizarão uma série de processos de biologia molecular a fim de identificar, nos linfócitos B, as sequências de genes que expressam os anticorpos neutralizantes.
Cada anticorpo será então caracterizado quanto à ação perante o vírus, como capacidade de ligação, especificidade e afinidade, reatividade cruzada com outros anticorpos e capacidade de neutralização.
Entre um e três anticorpos que tiverem maior eficiência nesses critérios serão então testados em animais.
Os resultados são levados em consideração para selecionar os melhores clones, que podem ser produzidos em larga escala num biorreator para, então, serem levados aos ensaios pré-clínicos e clínicos.