Nesta terça-feira (29), o Instituto Butantan anunciou uma pesquisa sobre o uso de moléculas de veneno de um peixe no tratamento de asma. Trata-se de um peptídeo derivado do veneno do peixe niquim. Em estudo publicado na revista científica Cells, foram apresentados resultados promissores para o tratamento da asma em testes em modelos animais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde a asma é a doença respiratória mais comum, afetando 262 milhões de pessoas no mundo e causando 455 mil mortes por ano. A maioria dos óbitos ocorre em países de baixa e média renda, com pouco acesso a diagnóstico e tratamento.
Em 2007, o Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan, descobriu a proteína com propriedades anti-inflamatórias, que deu origem a uma série de peptídeos sintéticos produzidos pelo grupo, que foram patenteados no Brasil e em outros 12 países.
“Desde então, pesquisas conduzidas pela equipe têm apontado a molécula como uma possível candidata para tratar doenças inflamatórias”, afirma o instituto.
Segundo o Butantan, o tratamento com TnP também atenuou a remodelação das vias aéreas, característica que contribui para a redução da função pulmonar e obstrução do fluxo aéreo, e reduziu a presença de muco no pulmão.
Diferentemente das terapias convencionais, que podem causar sintomas como taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares, não foram identificados efeitos adversos.
“Submetemos o veneno do peixe a uma cromatografia para identificar peptídeos e testamos várias moléculas. Essas toxinas provocam dor, edema, necrose. Até que chegamos a uma fração de peptídeos que não causava nenhuma ação danosa e isso nos chamou atenção”, disse a pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira.
Segundo ela, posteriormente, foi feito o sequenciamento genético do TnP para permitir a produção dos peptídeos sintéticos em laboratório.
Peixe niquim
Peixe peçonhento que predomina no Norte e Nordeste do Brasil, costuma se esconder em buracos na areia e sobrevive por até 18 horas fora d'água. O contato com seus espinhos causa dor aguda, sensação de queimação, inchaço e necrose. Seu veneno é estudado pelo instituto desde 1996.
Cuidado no uso do peptídeo TNP
Para analisar a toxicidade do peptídeo TnP, os pesquisadores testaram um modelo animal de pesquisa que apresenta 70% de semelhança genética com humanos. Segundo o estudo, não houve registro de disfunções cardíacas nem problemas neurológicos causados pelo peptídeo.