Ao subir a serra, a brisa que vem do litoral pode tornar mais suave as ilhas de calor que se formam na Região Metropolitana de São Paulo, além de interferir na qualidade do ar ao promover temporariamente a dispersão dos poluentes acumulados na atmosfera.
É o que indica um estudo feito pela professora Flávia Noronha Dutra Ribeiro, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP com o apoio da Fafesp e publicado na revista Atmosferic Research.
As circulações termicamente dirigidas provenientes de lagos, mares e montanhas ajudam a determinar não só o clima, mas a qualidade do ar das áreas urbanas próximas. O objetivo do trabalho foi entender a propagação da brisa marítima na faixa de ar mais próxima da superfície, no Planalto.
“É esperado que a brisa traga um ar mais úmido e um pouco mais frio da costa, mas havia poucas informações disponíveis sobre o impacto real dela no perfil vertical da atmosfera”, disse a pesquisadora, que falou ao repórter Chloé Pinheiro, da Agência Fapesp.
A professora explica que a CLP – última camada da atmosfera, -recebe a interferência direta do que ocorre na superfície, como a capacidade de o solo refletir ou absorver o calor gerado pela radiação solar, tráfego automotivo, indústria, densidade demográfica e emissão de poluentes. É nessa camada que se formam as ilhas de calor, anomalia térmica que torna o ambiente urbano mais quente e seco do que as zonas rurais, que contêm mais vegetação.
“O promovido por atividades humanas tende a criar movimentos ascendentes na atmosfera e gerar uma circulação maior de ilhas de calor”, disse a pesquisadora, explicando que em São Paulo, a chegada da brisa marítima é muito positiva, pois deixa a temperatura um pouco mais baixa, o clima mais úmido e o ar menos poluído.
Outros estudos já haviam demonstrado que a brisa marítima chega a São Paulo pelo menos em metade dos dias do ano. Mas o estudo confirmou que ela sobe a serra quase todos os dias, mas depende dos sistemas de ventos para atingir a área urbana.
A presença tão marcante da brisa mesmo a cerca de 700 metros de altitude e 50 quilômetros de distância terrestre é proporcionada pela topografia da Serra do Mar, que impulsiona a brisa marítima.
“Ela se estabelece na costa, mas é propagada com a ajuda da circulação vale-montanha. Por conta da brisa de montanha, conforme a brisa marítima sobe, esfria ainda mais, e, quando atinge o topo, essa diferença térmica provoca a movimentação do ar em direção à cidade”, explicou Ribeiro.