BRASÍLIA - A contratação de mais 2.095 professores universitários para as vagas abertas com as aposentadorias em massa que ocorreram desde o anúncio das reformas na Previdência só acontecerá em janeiro do próximo ano. Embora as universidades estejam reclamando da falta de professores, o ministro da Administração, Bresser Pereira, só aprovou para este ano metade das 4.190 vagas pedidas pelo Ministério da Educação (MEC) para completar o quadro de docentes nas universidades federais.
A diretora do Departamento de Desenvolvimento do Ensino Superior, Vanessa Guimarães, adiantou que o MEC está em entendimento com Bresser para realizar logo os concursos para as contratações, embora a admissão dos professores só esteja prevista para janeiro.
Corte - Segundo a diretora, o MEC desenvolveu estudos com as universidades para redimensionar o número de vagas necessárias em todo o país. "Em 13 universidades constatamos o super dimensionamento de vagas e decidimos pelo corte de 30% nas contratações abertas com a aposentadoria de professores", afirma Vanessa. Nas demais instituições, todas as vagas serão preenchidas até janeiro.
Na avaliação da diretora, o fluxo de aposentadorias tende agora a diminuir, depois do pânico inicial causado com o anúncio das mudanças na Previdência. "A corrida para a aposentadoria atingiu mais fortemente as áreas onde a predominância é de mulheres no ensino", explicou Vanessa Guimarães, lembrando que as professoras ingressam, em geral, mais cedo no magistério, atingindo os 25 anos de serviço com pouco mais de 40 anos. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) chegou a perder 70% do seu corpo docente na área de Educação, de 1991 até hoje.
"O MEC tem procurado contornar o pânico que tomou conta dos professores, ainda assustados com o confisco imposto pelo governo Collor, que deixou a população insegura", disse a diretora. "Essas aposentadorias precoces estão atingindo um núcleo altamente qualificado dentro das universidades. Estamos cortando nossa própria carne", lamenta a diretora.
Orçamento - Segundo o MEC, cerca de 30% do orçamento das universidades federais, hoje, são destinados ao pagamento de aposentados e pensionistas. Há casos em que esse índice sobe para mais de 50%, como ocorre na UFMG. A despesa global com pessoal, entre funcionários ativos e inativos, representa hoje 94% do orçamento do MEC, de R$ 4 bilhões, para as universidades federais e hospitais universitários.
A Universidade Federal de Minas Gerais é a que tem maior número de vagas para recompor o quadro em função das aposentadorias: foi autorizada a contratação de 303 professores em 95, número que deverá dobrar em janeiro. Seguem as universidades de Brasília, com 304 contratações autorizadas para 95; a Universidade do Rio Grande do Sul, 334 vagas; e a do Paraná, com 218. Já a Universidade Federal do Rio de Janeiro só poderá contratar 26 professores este ano e outros 26 em janeiro.
UFRJ TERÁ DANO "IRREPARÁVEL"
MAURO SILVEIRA
Os cortes nas vagas existentes para professores na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) farão com que muitas atividades sofram "danos irreparáveis". A avaliação foi feita pelo reitor da universidade, Paulo Alcântara Gomes. Segundo ele, a decisão do ministro Luiz Carlos Bresser Pereira vai afetar principalmente cursos criados com base na orientação do governo passado, que defendia uma expansão dos cursos de caráter social. Com isso, a UFRJ, que em 1990 oferecia 4 mil vagas no vestibular, elevou esse número, este ano, para 6 mil, numa ampliação que atendeu a todos os cursos.
Paulo Alcântara Gomes revelou que, no início de 1995, a UFRJ dispunha de 371 vagas para professores decorrentes de pedidos de demissão ou aposentadoria, sem que representassem nenhum ônus a mais para a instituição. Com o corte determinado por Bresser, esse número caiu para 186. "De janeiro a maio houve mais de 100 novos pedidos de aposentadoria, o que aumenta ainda mais o problema", lamentou o reitor.
O reitor da UFRJ destacou que muitos cursos foram criados em função das orientações do governo anterior, como Direção Teatral, Dança, Radialismo, Fonoaudiologia e Fisioterapia. Além disso, foram ampliados os cursos noturnos, com ênfase para a formação de professores de 1º e 2º graus. Para resolver o problema, além da manutenção das vagas, Paulo Alcântara Gomes defende a realização de novos concursos e a contratação de novos professores, na medida em que isso se torne necessário para a universidade.
Notícia
Jornal do Brasil