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Brasileiros identificam gene inibidor de fungo na cana (1 notícias)

Publicado em 05 de dezembro de 2002

Descoberta de pesquisadores de São Carlos pode ajudar produtores Evanildo da Silveira escreve para 'O Estado de SP': Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) acabam obter o primeiro resultado prático do mapeamento genético da cana-de-açúcar. Eles identificaram um gene que é responsável pela produção de proteína capaz de inibir o crescimento de fungos causadores de doenças na planta. Com a descoberta será possível selecionar variedades de cana-de-açúcar mais resistentes a pragas ou até fazer outras transgênicas com essa característica. O seqüenciamento do genoma da cana-de-açúcar, realizado entre abril de 99 e dezembro de 2000, foi resultado de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp), que envolveu cerca de 60 laboratórios do Estado, entre os quais o Laboratório de Fitopatologia Molecular e Engenharia Genética (Lafimeg), da UFSCar. Foram identificados 43 mil genes, cujos fragmentos - cerca de 300 mil seqüências - estão armazenados no Brazilian Clone Collection Center (BCCC), em Jaboticabal (SP), construído especificamente para esse fim. O que o biólogo Flávio Henrique da Silva, do Depto. de Genética e Evolução da UFSCar, e sua orientanda, Andréa Soares da Costa, fizeram foi pegar essas seqüências gênicas e compará-las com o banco de dados do Gene Bank - o banco mundial de genes. 'Encontramos uma seqüência na cana similar a uma presente no arroz, que produz uma proteína capaz de impedir o crescimento de fungos', explica Silva. 'Ela inibe a cisteinoprotease, uma proteína fundamental para o desenvolvimento do fungo.' Depois de identificado o gene responsável pela produção da proteína inibidora de fungos - batizada por eles de canacistatina -, os pesquisadores o implantaram na bactéria E. coli. 'Essa bactéria passou, então, a produzir a canacistatina em grande quantidade', explica Silva. 'Nós pegamos essa proteína produzida, a purificamos e a testamos.' Segundo Silva, foram realizados testes, tanto in vitro como in vivo. 'No primeiro, colocamos em contato a canacistatina com a cisteínoprotease. Notamos que a primeira inibiu a segunda, como esperávamos. Depois testamos a canacistatina diretamente no fungo não patogênico Trichoderma ressei (que não casa a doença) e nos patogênicos Colletrichum s.p. e Fusarium moniliforme. Constatamos que ela impede o crescimento dos fungos.' O Fusarium é praga onipresente nos canaviais, causando grandes prejuízos, já que provoca doenças na base do gomo ou uma espécie de 'podridão' no topo da cana. A descoberta dos pesquisadores da UFScar pode ser uma solução contra essa praga. (O Estado de SP, 5/12) JC e-mail