Descoberta de pesquisadores de São Carlos pode ajudar produtores
Evanildo da Silveira escreve para 'O Estado de SP':
Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) acabam obter o primeiro resultado prático do mapeamento genético da cana-de-açúcar.
Eles identificaram um gene que é responsável pela produção de proteína capaz de inibir o crescimento de fungos causadores de doenças na planta.
Com a descoberta será possível selecionar variedades de cana-de-açúcar mais resistentes a pragas ou até fazer outras transgênicas com essa característica.
O seqüenciamento do genoma da cana-de-açúcar, realizado entre abril de 99 e dezembro de 2000, foi resultado de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp), que envolveu cerca de 60 laboratórios do Estado, entre os quais o Laboratório de Fitopatologia Molecular e Engenharia Genética (Lafimeg), da UFSCar.
Foram identificados 43 mil genes, cujos fragmentos - cerca de 300 mil seqüências - estão armazenados no Brazilian Clone Collection Center (BCCC), em Jaboticabal (SP), construído especificamente para esse fim.
O que o biólogo Flávio Henrique da Silva, do Depto. de Genética e Evolução da UFSCar, e sua orientanda, Andréa Soares da Costa, fizeram foi pegar essas seqüências gênicas e compará-las com o banco de dados do Gene Bank - o banco mundial de genes.
'Encontramos uma seqüência na cana similar a uma presente no arroz, que produz uma proteína capaz de impedir o crescimento de fungos', explica Silva. 'Ela inibe a cisteinoprotease, uma proteína fundamental para o desenvolvimento do fungo.'
Depois de identificado o gene responsável pela produção da proteína inibidora de fungos - batizada por eles de canacistatina -, os pesquisadores o implantaram na bactéria E. coli.
'Essa bactéria passou, então, a produzir a canacistatina em grande quantidade', explica Silva. 'Nós pegamos essa proteína produzida, a purificamos e a testamos.'
Segundo Silva, foram realizados testes, tanto in vitro como in vivo. 'No primeiro, colocamos em contato a canacistatina com a cisteínoprotease.
Notamos que a primeira inibiu a segunda, como esperávamos. Depois testamos a canacistatina diretamente no fungo não patogênico Trichoderma ressei (que não casa a doença) e nos patogênicos Colletrichum s.p. e Fusarium moniliforme. Constatamos que ela impede o crescimento dos fungos.'
O Fusarium é praga onipresente nos canaviais, causando grandes prejuízos, já que provoca doenças na base do gomo ou uma espécie de 'podridão' no topo da cana. A descoberta dos pesquisadores da UFScar pode ser uma solução contra essa praga.
(O Estado de SP, 5/12)
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