SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo internacional de pesquisadores com diversos participantes brasileiros descobriu que Quaoar, um dos grandes objetos de grande porte orbitando além de Netuno, tem um anel. O achado sugere que essas estruturas devem ser bem mais comuns do que se imaginava antes e põe em xeque a compreensão das condições que permitem que elas se formem.
Quaoar é um dos grandes objetos conhecidos que residem no chamado cinturão de Kuiper, onde também se localiza Plutão, o maior deles. Com estimados 1.110 km de diâmetro, ele tem a metade do tamanho do "primo" famoso.
Provavelmente também se trata de um planeta-anão, mas a União Astronômica Internacional (a "Fifa" da astronomia) não o classifica dessa maneira, porque uma das condições para receber o nome é ter atingido equilíbrio hidrostático (traduzindo do cientifiquês, ser aproximadamente esférico). O trabalho dos cientistas começou justamente com este objetivo: tentar determinar a forma de Quaoar.
Observações da luz refletida do objeto não são muito úteis para isso. Como ele é relativamente pequeno e distante, mesmo nossos melhores telescópios não revelam detalhes de sua forma. Quaoar aparece apenas como uns poucos pixels acesos, mesmo na melhor imagem. Para contornar a dificuldade, os astrônomos exploram fenômenos conhecidos como ocultações.
A coisa se dá quando a órbita do objeto o faz transitar à frente de uma estrela mais distante, bloqueando temporariamente sua luz. O tempo de bloqueio indica o tamanho do astro. E se esse bloqueio é medido de vários pontos da Terra, é como medir várias seções paralelas, cada uma com seu comprimento. Juntas, podem permitir a criação de um modelo aproximado da forma.
Ocultações, contudo, são eventos raros e difíceis de observar. Para o atual trabalho, publicado na edição desta semana da Nature, os pesquisadores contaram com dados de quatro ocultações diferentes produzidas por Quaoar, ocorridas em 2 de setembro de 2018, 5 de junho de 2019, 11 de junho de 2020 e 27 de agosto de 2021.