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Comércio da Franca

Brasileiros decifram genes do esquistossoma

Publicado em 16 setembro 2003

Foram dois anos de trabalho envolvendo 37 cientistas de oito centros de pesquisa - dois deles no exterior -, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), tudo por causa de um verme. O resultado é a análise de uma amostra de 92% dos 14 mil genes do Schistosoma mansoni, que está publicada na Nature Genetics online. O S. mansoni infesta mais de 10 milhões de brasileiros, dos quais 1 milhão vai ter a forma grave da doença e 100 mil vão morrer. Na mesma edição, a revista publica o trabalho de chineses, que analisaram um parente do S. mansoni, o S. japonicum. As várias formas de esquistossoma atingem 200 milhões de pessoas no mundo, a maioria na Ásia, América Latina, Oriente Médio e África. ORESTES - O trabalho brasileiro tem dois diferenciais importantes. O primeiro é o uso da estratégia brasileira Orestes de seqüenciamento, que a revista publica pela primeira vez. Além disso, a pesquisa coordenada por Sérgio Verjovski-Almeida, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, analisou genes expressos nos vários estágios de vida do verme (adultos, ovos, miracídios, cercárias, esquistossômulos e germ balls), enquanto os chineses estudaram apenas os genes ativados nos ovos e vermes adultos. ESTRATÉGIA DE SEQÜENCIAMENTO FOI DESENVOLVIDO COM VERME Estudos com esquistossoma combinam biologia, medicina, antropologia, história e até geologia. Mas esse verme tem um papel curioso na pesquisa brasileira. Foi pesquisando o esquistossoma que o mineiro Emmanuel Dias Neto, no Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, e o inglês Andrew Simpson, atualmente no Instituto Ludwig em Nova York, desenvolveram a estratégia Orestes (Open Reading Frame Expressed Sequence Tags) de seqüenciamento. A Orestes tem a capacidade de ler o "miolo" dos genes, justamente a região que contém a receita das proteínas, enquanto as demais técnicas lêem apenas as extremidades dos genes. A "maioridade" da Orestes veio há dois anos, quando um trabalho de 102 pesquisadores, encabeçados por Anamaria Aranha Camargo, do Instituto Ludwig, ganhou destaque na Proceedings of the National Academy (PNAS), pelas mãos de Robert Waterston, um dos "pais" do Projeto Genoma Humano. Agora é a vez da Nature, que já havia publicado revisões que mencionavam a estratégia, mas nunca um estudo brasileiro com dados obtidos por Orestes.