Um 'Big Brother' da biologia. Brasileiros criam sistema para prever epidemias de dengue e febre amarela:
Projeto vai monitorar interior de São Paulo, Pantanal, Amazônia e Panamá para detectar possíveis aumentos e mudanças nos vírus transmitidos por mosquitos.
da biologiaA pesquisa vai acontecer em quatro lugares: São José do Rio Preto (SP), Manaus (AM) e em algumas regiões do Pantanal e do Panamá."São locais em que há muita transmissão de doenças por mosquitos e onde temos laboratórios e profissionais capacitados para trabalhar", justifica o médico virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e um dos coordenadores da iniciativa.
Ao longo dos próximos cinco anos, os cientistas vão fazer um monitoramento contínuo dos quatro personagens envolvidos no processo de uma epidemia: os vírus, os mosquitos, os animais intermediários e os seres humanos.A proposta é, entre outras coisas, fazer o sequenciamento genético dos vírus causadores dessas doenças e analisar a distribuição e o comportamento de seus transmissores: os mosquitos
Aedes aegypti(que dissemina dengue, zika e chikungunya em ambientes urbanos),HaemagogusSabethes(vetores da febre amarela em áreas silvestres).Outra atividade será acompanhar os animais que também podem ser infectados por esses agentes infecciosos, especialmente algumas espécies de macacos. headtopics.com
Apesar de não transmitirem a doença diretamente às pessoas, o aumento de casos entre os primatas pode significar o início de um novo surto ou o aumento do risco de transmissão em áreas de transição entre cidades e florestas.
"Também vamos coletar e analisar amostras de pacientes com casos suspeitos e observar o que acontece com milhares de pessoas que moram em determinados bairros dos quatro centros de estudo", detalha a virologista Lívia Sacchetto, pós-doutoranda na Famerp.
Crédito,Victor Moriyama/Getty ImagesLegenda da foto,Em 2018, o Brasil enfrentou a pior pandemia de febre amarela desde 1942. A morte de macacos em regiões de mata foi o primeiro sinal da crise de saúde públicaEfeitos práticos (e imediatos)
A partir da coleta de tantas informações, os cientistas pretendem criar modelos que permitirão se antecipar às crises sanitárias antes mesmo que elas se iniciem.Nogueira lembra que, entre 2018 e 2019, a região de São José do Rio Preto, no interior paulista, enfrentou uma epidemia de dengue do tipo 2 — sabe-se que existem quatro tipos diferentes do vírus causador dessa doença, que circulam com mais ou menos intensidade de forma periódica. headtopics.com
"Nós conseguimos prever que a dengue tipo 2 iria se tornar um problema em breve e conseguimos avisar as autoridades a tempo para que algumas medidas preventivas fossem tomadas", recorda.Com alertas desse tipo, é possível reforçar as ações de combate ao
Aedes aegypti, como a limpeza de terrenos baldios e reservatórios de água parada que servem de criadouro para o mosquito.No caso da febre amarela, por exemplo, o aparecimento dos primeiros casos entre os macacos de uma região já pode ser suficiente para que aconteçam reforços nas campanhas de vacinação para proteger aqueles que ainda estão suscetíveis.
Um segundo ponto essencial do projeto está na análise de outros vírus que também são transmitidos por mosquitos e já circulam pelo Brasil e pelas Américas."Já foram identificados no país vírus como o mayaro e o oropouche, que podem provocar epidemias futuras e precisam ser estudados de perto", acrescenta Sacchetto.