Já pensou se existisse uma ferramenta alimentada por inteligência artificial capaz de identificar fake news? Isso pode estar próximo de ser realizado graças a uma plataforma criada por pesquisadores brasileiros do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O sistema combina modelos estatísticos e técnicas de aprendizado de máquina para definir a probabilidade de um texto ser fake. Os primeiros resultados mostraram um resultado muito animador: quase 96% de precisão ao detectar notícias falsas.
A ideia é oferecer uma ferramenta que auxilie as pessoas a identificar de forma objetiva se o conteúdo é autêntico ou puramente mentiroso. Hoje, muitas pessoas precisam recorrer à subjetividade para identificar uma matéria, o que nem sempre é eficaz quando existe conotação política ou predisposição ideológica.
Como funciona o detector de fake news?
A ferramenta analisa a notícia na íntegra e aplica métodos estatísticos para avaliar características de escrita, como palavras mais usadas ou classes gramaticais recorrentes. O classificador entra em cena com um modelo de aprendizado de máquina capaz de distinguir padrões de linguagem, vocabulário e semântica comumente empregados em notícias falsas e verdadeiras.
Para construir esse sistema, os estudiosos alimentaram a plataforma com mais de 100 mil notícias publicadas nos últimos cinco anos. Ao diferenciar as verdadeiras das falsas, os modelos começaram a ser treinados a partir desse imenso banco de dados para identificar padrões de escrita.
Segundo o diretor de transferência tecnológica do CeMEAI e coordenador do projeto, Francisco Louzada Neto, a ideia é oferecer à sociedade uma ferramenta adicional que ajude no julgamento da veracidade de uma notícia. “As fake news apresentam padrões na redação do texto, uso e frequência de palavras que podem ser identificáveis pelo classificador”, afirma Louzada.
Constante aprimoramento
Na avaliação do pesquisador, o combate às fake news é uma "corrida de gato e rato", porque os métodos de produção são constantemente aprimorados. Em razão disso, uma das preocupações é que o sistema possa ser usado por criadores de fake news para avaliar o potencial de uma notícia falsa se passar por verdadeira antes da difusão. “Esse é um risco com o qual teremos que lidar”, afirma.
Com o período eleitoral cada vez mais próximo, os pesquisadores pretendem usar as fake news que circularão pelas redes sociais e apps de mensagem, além das constantes mentiras sobre a pandemia da covid-19, para calibrar o algoritmo de identificação.
A plataforma para detecção de notícias falsas começou a ser desenvolvida pelos participantes da última edição do mestrado em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria, oferecido pelo ICMC-USP e em cursos da área de educação corporativa do CeMEAI. Os acadêmicos também desenvolveram soluções para antecipar o valor de mercado de criptomoedas e um sistema para acompanhamento de óbitos por covid-19 em nível municipal.
Quem quiser experimentar o detector de fake news poderá fazê-lo gratuitamente por meio da página do projeto. Por lá também é possível acessar o código da aplicação e os bancos de dados usados, além de conhecer os integrantes do projeto.
Fonte: Fapesp