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Correio do Estado (Campo Grande, MS)

Brasileiros criam aparelho portátil para detectar anemia (1 notícias)

Publicado em 17 de abril de 2009

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um aparelho portátil para diagnosticar anemia: o hemoglobinômetro. O projeto, fruto de uma parceria público-privada, poderá ajudar no combate à doença nutricional mais comum do mundo: a anemia causada por falta de ferro, conhecida como anemia ferropriva. Pelas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), a deficiência atinge 25% da população mundial e, nos países em desenvolvimento, 50% das crianças com idade inferior a quatro anos.

Basta uma picada no dedo para realizar o exame . Nos testes do aparelho, os pesquisadores contaram com a ajuda do médico Mário Maia Bracco, do Centro Assistencial Cruz de Malta, que atende a população carente na zona sul de São Paulo. Mais de cem crianças de 4 a 6 anos, no Jabaquara, foram avaliadas. O resultado, então, foi comparado com outros métodos de diagnóstico.

Além de validar o aparelho, os agentes de saúde descobriram uma alta prevalência de anemia: pouco mais de 20%. Com o apoio da prefeitura de Ilhabela, litoral norte paulista, e da pediatra Juliana Teixeira Costa, os pesquisadores também avaliaram 670 crianças na cidade. Cerca de 18% apresentavam anemia. As famílias receberam orientações para melhorar a dieta dos filhos. Após 45 e 90 dias, o exame foi feito novamente. Cerca de 95% das crianças saíram da faixa de anemia.

Adoção pelo SUS

A equipe recebeu um financiamento de R$ 178 mil para testar a viabilidade de incorporação do equipamento ao Sistema Único de Saúde (SUS). Com o dinheiro, realizaram-se exames em Santa Luzia do Itanhi, no Sergipe, e em comunidades ribeirinhas do Rio Amazonas. “Testamos o equipamento em diversos cenários”, afirma Jair Chagas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos responsáveis pela invenção do dispositivo.

O equipamento ainda depende de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a agência, o processo está “aguardando análise” e não é possível fazer previsões de quando o registro será concedido. No mês passado, Chagas descobriu que já pode pedir a patente internacional, pois foi reconhecida a originalidade do método de medição.

Existe um aparelho similar chamado Hemocue, produzido por uma empresa sueca. Cada ampola com reagente para realização de um exame custa, em média, R$ 5,30. “Mesmo em pequena escala, conseguiríamos fazer no Brasil por R$ 1,50″, afirma Chagas.

O equipamento brasileiro custaria R$ 2 mil. O importado sai por volta de R$ 3 mil, 50% mais caro, portanto.

Desdobramento

De início, os inventores Chagas, Paulo Alberto Paes Gomes e Maurício Marques de Oliveira - que se conheceram na Universidade de Mogi das Cruzes - pretendiam construir um equipamento para determinar a concentração no sangue da enzima conversora de angiotensina, importante para o controle da hipertensão.

A ideia inicial foi ampliada para outros parâmetros: sódio, potássio, glicose e colesterol. Por fim, concentraram-se no protótipo para medição de hemoglobina. Já há um protótipo pronto para medir glicohemoglobina, importante para o controle de diabete.

Chagas aponta que, com o aparelho, seria possível realizar campanhas em grande escala contra anemia. “Uma mãe não precisaria ir três ou quatro vezes ao posto de saúde para conseguir o resultado do exame”, afirma o pesquisador. “Sairia na hora junto com a especificação do tratamento.”

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) contribuiu com R$ 520 mil, principalmente por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), que apoia projetos desenvolvidos por cientistas ligados a microempresas.