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Instituto Oncoguia

Brasileiro fará pesquisa com não fumantes para entender alterações do DNA do câncer de pulmão

Publicado em 07 abril 2020

Por Audrey Furlaneto

RIO - Desde 2010, o oncologista Ramon Andrade de Mello estuda mutações genéticas em pacientes de câncer de pulmão. Naquela época, conta, ainda eram poucas as pesquisas sobre os aspectos moleculares da doença. Ele próprio foi um dos pioneiros na área — em Portugal, liderou uma pesquisa sobre alterações de genes em mais de 400 pessoas com o tumor, fumantes e não fumantes. A ideia era identificar mutações — tanto do DNA dos indivíduos, que podem torná-los mais predispostos à doença, quanto do DNA do próprio câncer — e, assim, melhorar a prevenção e o tratamento.

Dez anos depois, numa parceria com o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, ele estará à frente de um estudo semelhante no Brasil, mas focado apenas no sequenciamento genético das células cancerígenas de pulmão. A peculiaridade é que todos os recrutados serão não fumantes. Isso porque o objetivo é descobrir fatores genéticos relacionados à doença, descartando-se qualquer relação com o tabagismo, que está associado à maioria dos casos desse tipo de tumor. Ao olhar para o mapa genético de não fumantes, os pesquisadores tentarão descobrir outras alterações conectadas ao câncer, diferentes daquelas vinculadas aos receptores de nicotina.

— A pesquisa em Portugal incluía as alterações de genes dos indivíduos, os polimorfismos, que indicam como eles são mais suscetíveis ao tumor. Agora vou focar apenas no DNA do próprio câncer — explica Mello, que também tem outra pesquisa em vista, já com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sobre alterações genéticas de pacientes com câncer de cólon.

Tecnologia no Brasil

Apesar de contar com a estrutura do instituto dos Estados Unidos, o oncologista quer que o mapeamento genético do tumor de pulmão também possa ser feito no Brasil. Professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade do Algarve, em Portugal, ele apresentou à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) um projeto para a compra de equipamentos que tornem possível o sequenciamento genético na Unifesp, em cujo hospital a maior parte dos pacientes será recrutada:

— De certa forma, estamos criando a tecnologia no Brasil para que esse trabalho possa ser feito pelos cientistas brasileiros em seu próprio país. A ideia é que a gente possa conhecer cada vez mais o DNA do câncer de pulmão e entender como podemos inibir causas e, no futuro, criar medicamentos mais específicos para a doença.

Se a seleção de pacientes tiver início daqui a seis meses, Ramon estima que haja resultados em quatro anos. Em paralelo, ele diz que trabalha para que o mesmo tipo de pesquisa, focada no DNA do tumor (e não só dos indivíduos) seja realizada em pacientes de câncer de cólon, estômago e mama:

— Nosso objetivo é traçar a assinatura molecular do câncer para poder entender melhor como cada doença funciona e como podemos desenvolver remédios mais eficientes. Além de ver se o paciente vai ter propensão genética para o câncer, poderemos saber quem responde melhor a cada tipo de tratamento, ou seja, vamos conseguir tratar o paciente com mais eficiência.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o câncer de pulmão é, junto com o de mama, o que mais mata no mundo (cada tipo foi responsável por cerca de três milhões de mortes em 2018).