Com o apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, um projeto brasileiro idealizado pelo inventor Charles Adriano Duvoisin visa criar uma bateria de longa duração, com potencial para durar até cem anos, em contraste com a vida útil de 10 a 12 anos das baterias convencionais. O pesquisador explica que foi preciso repensar todos os aspectos do produto. “Tivemos que analisar desde os materiais empregados até o design do sistema de armazenamento, pois a durabilidade envolve não só eficiência, mas também segurança e impacto ambiental”. Seu sócio, Fernando de Mendonça, é um cientista centenário e um dos fundadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com Duvoisin, o novo componente não se limita a ser mais uma bateria; ele também aborda questões de segurança, durabilidade e eficiência energética. A resistência a vazamentos de radiofrequência e a capacidade de operar em condições extremas são características essenciais do projeto. “Essas propriedades são especialmente relevantes para o setor aeroespacial, onde as baterias devem resistir a temperaturas extremas e ainda funcionar com alta confiabilidade. Com essa nova tecnologia, podemos assegurar a segurança e estabilidade das baterias em ambientes de alto risco, como satélites e sistemas de comunicação espacial”.
Tradicionalmente, as baterias geram corrente elétrica por meio de reações químicas. A inovação proposta muda essa abordagem ao utilizar campos elétricos controlados e armadilhas de elétrons. “É uma ideia inovadora que permite que qualquer bateria produza maior corrente elétrica ao inverter campos elétricos direcionados. Isso possibilita controlar o fluxo de íons e estabelecer um sistema de gerenciamento seguro”. Adriano afirma que esta será a primeira bateria do mundo com controle total sobre suas funções: “Com base na prova teórica, estimamos que sua vida útil chegue a cem anos”, detalha. Ele enfatiza a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: “Uma bateria que dure cem anos significa menos lixo, mais sustentabilidade e economia”.
Esse conceito permite controlar o fluxo de íons através das armadilhas de elétrons e pode ser aplicado a diversos tipos de baterias, desde as utilizadas em dispositivos como relógios inteligentes e smartphones até aquelas destinadas à aviação e à indústria naval. “Além disso, o controle do fluxo de íons proporciona mais segurança. A tecnologia é compatível com opções de lítio, chumbo, sódio ou qualquer outro tipo”. O principal desafio identificado pelo pesquisador é o custo, já que o componente pode ser 10% a 30% mais caro do que as alternativas tradicionais. No entanto, Duvoisin acredita que os consumidores podem enxergar essa diferença como um investimento a longo prazo: “Embora o custo inicial seja maior, a durabilidade da bateria é crucial: com uma vida útil de cem anos, o consumidor economiza ao não precisar trocá-la frequentemente, resultando em economia significativa ao longo do tempo”. À medida que a tecnologia se popularizar, espera-se que os custos diminuam; no entanto, ela enfrentará concorrência das empresas já consolidadas no mercado de baterias. “Essas empresas contam com mais recursos financeiros e infraestrutura estabelecida. Mesmo assim, nossa tecnologia se destaca pela durabilidade e sustentabilidade”.
A bateria proposta por Duvoisin é mais eficiente e busca reduzir impactos ambientais, uma demanda crescente tanto entre consumidores quanto reguladores. As baterias tradicionais, especialmente as de íons de lítio, geram grande impacto ambiental durante sua produção e descarte. O projeto recebeu um prêmio do Instituto General Motors e os cientistas já publicaram dois artigos científicos relevantes. “Uma das nossas prioridades é garantir que a bateria seja sustentável em todas as suas etapas. Estamos desenvolvendo métodos para minimizar resíduos e assegurar que os materiais utilizados sejam recicláveis”, afirma Duvoisin. “Isso é fundamental não apenas para atender às exigências do mercado, mas também para contribuir com um futuro mais sustentável”.
O projeto teve início como uma pesquisa acadêmica, mas Duvoisin sempre vislumbrou a possibilidade de transformar essa tecnologia em um produto comercial. Para isso, estabelecer parcerias com grandes empresas e instituições é essencial: o pesquisador já está em negociação com várias companhias, tanto para validar o conceito quanto para expandir as aplicações da tecnologia em diversos setores. Essa colaboração possibilita que o projeto seja testado e validado em condições reais de mercado. Em um prazo de seis meses, Duvoisin espera trazer novidades sobre investidores e os próximos passos do desenvolvimento da tecnologia. “Estamos em uma fase decisiva do projeto e, nos próximos meses, esperamos avançar nos testes e nas parcerias. Com o suporte adequado, podemos alcançar um sucesso global. O mundo está preparado para uma bateria mais eficiente, segura e sustentável, e estamos prontos para liderar essa transformação”. De acordo com o inventor, a proposta é criar uma solução flexível que atenda a diferentes demandas, sendo ao mesmo tempo sustentável e acessível. Ele acredita que, com o parceiro ideal, a bateria pode estar pronta para o mercado em seis meses. “Temos mantido muitas conversas produtivas. Estamos bastante otimistas, pois nossa intenção não é obstruir ninguém. Nosso foco é agregar valor”.
Fonte: Saneamento Ambiental