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Brasil vive profusão de investimentos e negócios na área de Biotecnologia (1 notícias)

Publicado em 10 de maio de 2002

O setor cresceu 300% nos últimos oito anos em número de novas empresas. A área emprega 28 mil trabalhadores e fatura R$ 9 bilhões por ano. Mas muitas vezes é controlado por executivos. Já são 304 indústrias do setor de Biotecnologia no país. Em 1993, eram 76 empresas. Há seis anos, o setor faturava R$ 1 bilhão. Agora são R$ 9 bilhões. Entre as companhias, mais de 60% são micro e pequenas. E 17% estão incubadas, ou sejam, operam em centros de estudos nas Universidades. Recebem principalmente o apoio da Fapesp. Os dados fazem parte de um recente levantamento da Fundação Biominas — entidade criada por meio de um convênio do governo mineiro com empresários. Segundo o estudo, 44% das empresas de biotecnologia no Norte e Nordeste são coordenadas por pesquisadores. No RJ e MG, dois dos principais pólos no Brasil, a taxa chega a 30%. Na região central do Brasil, os professores estão no comando de 80% das companhias. Como essas pequenas empresas têm feito descobertas, a área começa a atrair a atenção de investidores nacionais e internacionais. Projetos de expansão estão sendo apresentados para fundos de capital de risco e para bancos. Os pesquisadores começam a virar empresários profissionais. Grande parte dos grupos nasce com apoio de incubadoras. Segundo estudo de Jorge Neves e Ana Cristina Carvalho, da Universidade Federal de Minas Gerais, os pesquisadores ainda patinam para conseguir financiamento e gerenciar o negócio. Crescimento demorado - Mesmo com o "boom" da área de Biotecnologia no Brasil, pouquíssimas empresas do setor conseguem faturar mais de R$ 100 milhões no país — só uma entre cada dez. Há outras que sequer tiveram lucro até hoje. Essas correspondem a 8% do total de companhias existentes. Um total de 30% tem receita anual de até R$ 500 mil. Resumindo: a ' 'indústria do futuro1, como é chamada, por enquanto ainda não fez a maioria ganhar rios de dinheiro no país. Existem até profissionais envolvidos que nem sequer recebem salários onde trabalham. Segundo Marilene Henning Vainstein, coordenadora do Centro de Biotecnologia da UFRGS, há gerentes de incubadoras que recebem bolsas e não salários. O problema é que o tempo de maturação das empresas (e de seus produtos) é crucial para a elevação do faturamento. Portanto, as empresas "novas", de 4 até 7 anos de vida, ainda estão em processo de pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, precisam comercializar suas descobertas para tomarem-se rentáveis Uma das maiores companhias no Brasil é a Biolab, que tem faturado em torno de US$ 40 milhões por ano. Assim como ela, a Vallée, com faturamento de R$ 80 milhões, faz parceria com seis Universidades. Grande importador - O Brasil vive uma situação contraditória. Enquanto de um lado o país vive a profusão dos negócios e investimentos na área de Biotecnologia, importa cada vez mais produtos do setor. Segundo trabalho da Unicamp feito em 2001. agora nas mãos do MCT, o Brasil importou US$ 500 milhões em produtos de Biotecnologia em 1999. Em 1995, o montante era bem menor, cerca de US$ 100 milhões. Se por um lado tais números revelam uma pressão sobre a balança comercial, por outro mostram que há forte demanda no país por esses produtos. Ou seja, existe mercado interno. Economistas ouvidos pela Folha de SP dizem que um crescimento do parque industrial nacional — e conseqüentemente na produção interna — poderia reduzir a pressão do setor sobre a balança comercial do pais. Embora esteja em crescente expansão, o parque industrial ainda é pequeno. A indústria brasileira de Biotecnologia, em número - de empresas, corresponde a 1/5, da norte-americana. Não chega a metade da européia e tem o mesmo tamanho da canadense.