Uma vitória brasileira pode evitar a morte de 200 milhões de pessoas em todo o mundo que lutam contra a esquistossomose, doença mais conhecida como barriga d'água. Três pesquisadores do Centro de Pesquisas René Rachou, em Minas Gerais, e do Departamento de Helmintologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio, desenvolveram uma vacina capaz de diminuir a quantidade de vermes no organismo. A eficácia da vacina SM 14 foi comprovada em camundongos e coelhos e está prestes a ser testada nos seres humanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) escolheu a SM 14 como forte concorrente para ser a primeira vacina contra a esquistossomose.
De acordo com Naftalie Katz, um dos criadores da vacina, a SM 14 vem apresentando excelentes resultados em animais, onde os índices de proteção chegaram a 65%. Além disso, Naftalie explica que o antígeno já é comprovadamente eficaz contra a facíola hepática, doença que provoca uma excessiva perda de peso em bovinos. A Fiocruz que possui a patente da vacina - fez um acordo com uma companhia de gado australiana, onde a vacina está sendo testada.
"A SM 14 diminui a quantidade de vermes da esquistossomose no organismo. Nos camundongos, o resultado ficou em cerca de 60% de proteção. Ainda não sabemos ao certo quando será testada em homens. Mas creio que no próximo ano realizaremos esses testes", disse Naftalie. A vacina foi criada há dez anos e continua sendo aperfeiçoada. Somente há dois anos os pesquisadores conseguiram a patente com a Fiocruz.
As doenças provocadas por parasitas passam por inúmeras fases de desenvolvimento no interior de hospedeiros, transformando-se em alvo móvel para o sistema imunológico. Por esta razão, poucas doenças parasitárias são curadas pelo organismo. E isso também o que dificulta o desenvolvimento de vacinas. "É muito complicado desenvolver vacinas contra parasitas. Os anticorpos da SM 14 destroem as larvas do parasita e impedem seu desenvolvimento para a fase adulta", explica Naftalie, que ressalta que, caso a vacina seja aprovada para ensaio voluntário, a verba será totalmente brasileira.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 200 milhões de pessoas sofrem de esquistossomose no mundo, sendo que cerca de um bilhão vivem em condições propícias para adquirir a doença. Atualmente, a doença atinge 70 países. Só no Brasil são oito milhões de pessoas contaminadas.
Caramujo - A esquitossomose é causada por um verme microscópico. A transmissão se faz pelo contado com as formas larvárias liberadas por caramujos hospedeiros que vivem em águas doces. Esses caramujos são infestados pelos ovos do parasita eliminados nas fezes do homem contaminado. Na água, os ovos evoluem. Ao atingir a forma larvária, abandonam os caramujos e penetram na pele do homem.
A esquistossomose pode causar fibrose do fígado, ocasionada pelas tentativas frustradas do organismo para expulsar os ovos do verme Schistosoma mansoni. O parasita instala-se nos vasos sangüíneos e seus ovos provocam nódulos nos órgãos em que se alojam. Os ovos afetam o fígado, pulmão e outros órgãos. Na sua forma inicial, a doença provoca fortes diarréias. Na forma crônica, graves hemorragias, entre outras complicações. Além disso, pode levar à cirrose e à morte.
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Jornal do Brasil