O Brasil terá a quarta empresa no mundo de fabricação de telas premium, um tecnologia que separa o petróleo de grãos de areia, a partir de 2015. Foi o que revelou Osmar Bagnato, líder do grupo de engenharia de materiais do Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Enquanto desenvolviam processos especiais de fabricação de materiais e componentes para os aceleradores de partícula do laboratório, os pesquisadores da LNLS encontraram uma solda de difusão que resultou na tela premium. A tela é formada a partir de um processo de soldagem denominado fusion-bonding. Sua função é separar o petróleo de grãos de areia com origem nas rochas nas quais ele está depositado. A produção desse tipo de tela será feita pela Adest, a primeira empresa do país a comercializá-las. Isso fará com que as petrolíferas operando no país não precisem importar das outras três fábricas no mundo, no Japão, na Alemanha e nos Estados Unidos.
Como foi desenvolvida essa tela premium brasileira?
Para fabricar peça para os aceleradores de partículas, desenvolvemos um processo de soldagem chamado fusion bonding, em que unimos metais diferentes entre si e metais com cerâmicas. Uma pessoa me procurou anos atrás me informando que ele também era usado pra fabricar um filtro especial para o petróleo, que integra um sistema chamado telas premium, que vai até o fundo do poço e separa o petróleo da areia. No processo de fração da rocha, ocorre uma saída de fragmentos de areia que podem levar a um dano enorme dos equipamentos de superfície, bombas, dutos, ou ainda provocar uma erosão entre os equipamentos.
O que é o fusion-bonding?
É a solda de materiais metálicos sem fase líquida. Precisamos que eles sejam submetidos a vácuo, alta temperatura e alta pressão, num determinado tempo. Isso propicia a fabricação dos filtros, por que você tem diversos tipos metálicos numa tela e num forno prensado em alta temperatura, fazendo a migração dos átomos entre as células.
Quem ficou responsável pelo desenvolvimento do projeto?
Éramos um grupo pequeno. Para fazer esse projeto, financiado pela Statoil, contamos com dois engenheiros, três técnicos e dois bolsistas de iniciação. Antes disso, montamos uma estrutura com financiamento da Fapesp, da Finep, para construir formas e todos os equipamentos necessários para fazer essa soldagem de difusão.
E o que falta para a conclusão do projeto?
Restam dois novos ensaios, de um total de oito, para que ele termine. Não teremos nenhuma surpresa.
Que mudanças a produção nacional dessa tela trará ao setor de óleo e gás brasileiro?
O Brasil importa hoje em torno de 100 milhões de dólares de telas premium. Com o nosso projeto, surgirá uma empresa que deve operar em 2015 no Brasil, a Adest, para inicialmente fornecer a todo o mercado brasileiro. Hoje, as telas são totalmente importadas de apenas três empresas, em Japão, Alemanha e EUA. A Adest será a quarta empresa mundial a fabricar e vai suprir o mercado nacional com um produto de alta qualidade e desempenho, tão bom quanto o das multinacionais. Isso representa uma economia das empresas com taxas de importação e impostos, além de um produto muito competitivo a preços honestos. É um projeto desenvolvido com um processo genuinamente brasileiro, sem pagamento de royalties, que gera emprego psra brasileiros e não nos torna dependentes do fornecimento de empresas de fora.
Qual é a diferença do projeto brasileiro para os outros?
A diferença está em termos de parâmetros de processo, com variações entre temperatura e pressão que geram resultados semelhantes. A tecnologia é a mesma. Muitos ensaios para chegar em processos refinados. A Statoil Brasil financiou uma série de ensaios que nós realizamos nas telas para fazer a qualificação, e eles querem muito comprar. Faltam só dois ensaios, ele já está qualificado.
A tela atenderá às demandas de que mercados?
Inicialmente, o do Brasil. Depois, o mercado é mundial. Multinacionais podem comprar em vários locais do mundo, pois têm participação no mundo inteiro. Mar do Caribe, Venezuela, África, Arábia, Oriente Médio, poderemos atender uma demanda globalizada. Já foram feitas simulações e fornecidos preços para essas empresas e eles são muito competitivos.
Como fica a aplicação de telas premium no pré-sal?
A tela premium é usada em rochas carbonáticas, como nas bacias de Campos e Espírito Santo. No caso do pré-sal, a rocha é diferente. A tela premium convencional não tem previsão para ser utilizada no pré-sal, mas não impede o desenvolvimento de sistemas de filtração equivalentes às telas premium para atender esse tipo de poço.
(matheus@petronoticias.com.br)