O pesquisador Maurício Massazumi Oka coloca para funcionar nesta virada de ano a primeira máquina do Latinchip, a única fábrica de chips da América Latina, que começará a produzir no segundo semestre de 2000. "O aparelho serve para o controle de qualidade, ele localiza chips defeituosos no disco de silício", diz Oka. Segundo ele, a Latinchip irá operar com uma margem de erro alta, como é de se esperar para uma unidade de protótipos. "Mesmo assim, seremos capazes de produzir até S mil cópias de cada modelo", diz.
Acima desse volume, é mais viável encomendar a produção de uma fábrica no exterior, mas a indústria nacional poderá desenvolver a tecnologia na Cidade Universitária. "Usaremos as mesmas regras dos fabricantes internacionais", diz João António Zuffo, da Poli. Segundo ele, o Latinchip irá construir 400 tipos de chips por ano.
O Latinchip não será capaz de fazer os circuitos mais sofisticados, dos processadores de mesa. Os traços na placa de silício serão feitos com 0,8 micra de espessura, enquanto as linhas mais avançadas são capazes de uma precisão de 0,18 ou 0,15 micra. O Latinchip fará componentes delicados, como os usados em máquinas industriais, sensores, linha branca, painéis de carro e alguns equipamentos médicos. "Aparelhos de surdez custam hoje R$ 1,2 mil, mas com o Latinchip o preço será dez vezes menor", diz Zuffo.
A primeira linha de produção de chips brasileira será fundamental para a instalação de uma indústria internacional de microeletrônica, porque servirá para treinar técnicos. "O limite para os fabricantes se instalarem no Brasil é a falta de mão-de-obra", diz Zuffo. Segundo ele, esse foi o motivo de a Motorola doar US$ 1,3 milhão em máquinas para o Latinchip. A Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) deverá entrar com R$ 8,5 milhões, necessários para construir uma sala limpa de 1,2 mil metros quadrados. Para Zuffo, o Latinchip reduzirá a médio prazo o déficit do complexo eletrônico na balança comercial, que foi de US$ 5,7 bilhões em 1998.
O Latinchip faz parte de um projeto assinado em abril entre a Motorola, a Universidade de Campinas (Unicamp), a USP e o Centro de Tecnologia para Informática (CTI). A fábrica será o motor de um centro de pesquisas e capacitação de recursos humanos na área de tecnologia batizado de Programa de Integração de Sistemas de Informação (Proisi). "O Proisi exigirá um investimento de US$ 14 milhões anuais, sendo US$ 4 milhões estatais", diz Zuffo, que coordena o projeto. Para ele, a forte presença da iniciativa privada no Proisi servirá para que o centro não fique defasado tecnologicamente. "A NEC está interessada em participar com um pesquisa orçada em US$ 1 milhão por ano e a Nortel pretende investir US$ 4 milhões em outra parceria", conta.
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Gazeta Mercantil