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Agência C&T (MCTI)

Brasil tem salto em descoberta de sapos

Publicado em 13 abril 2008

Por Afra Balazina, da reportagem local

Só no ano passado foram descritos 17 novos sapos, pererecas e rãs no Brasil. E pesquisadores avaliam que nos próximos anos o Brasil poderá finalmente conhecer toda a sua diversidade de anfíbios -um total estimado em mil espécies.

Hoje, são 825 espécies conhecidas. Em 2006 e 2005, foram descritas 13 e 12 espécies, respectivamente, contra seis em 1995 e cinco em 1990.

Entre as novas descobertas está a do sapo Sphaenorhynchus caramaschii, da mata atlântica, que só se distingue de outra espécie (S. surdus) pelo canto que utiliza para atrair a fêmea.

"Dezenas de novas espécies [de anfíbios] estão sendo descritas neste momento, devendo ser oficialmente incorporadas à lista brasileira nos próximos anos", afirma o biólogo Célio Haddad, professor do departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro.

Segundo ele, há uma revolução em andamento no campo em razão do uso da genética molecular. Análises de DNA, têm permitido descobrir que certas populações aparentemente idênticas são, na verdade, espécies distintas.

Haddad diz que o número de descrições também tem aumentado em razão da atuação de mais pesquisadores e também de iniciativas como o programa Biota, inventário da biodiversidade paulista patrocidado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Mesmo assim, ele avalia que o trabalho poderia ser mais ágil.

Há um total de 90 espécies que aparecem, por exemplo, com "dados deficientes" na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicada pela Fundação Biodiversitas em 2005. Nesse caso, faltam informações sobre onde a espécie ocorre, se está em risco e quando foi avistada. O temor constante é que extinções ocorram antes de as espécies serem plenamente conhecidas.

Sem nojo

Alguns anfíbios parecem ter verrugas na pele; outros dão a impressão de serem gosmentos. Haddad e dois colegas (Cynthia Prado, também da Unesp, e Luís Felipe Toledo, da Universidade Federal do Paraná) dão neste mês um bom argumento -ou ao menos uma boa ferramenta- para as pessoas vencerem o nojo e conhecerem melhor os animais.

O trio lança em abril o livro "Anfíbios da Mata Atlântica", um guia com 180 espécies que pode servir para estudantes e pesquisadores que realizam atividades de campo. O livro traz uma espécie que ainda não foi descrita -o sapinho-vermelho-, mas a maioria dos animais retratados são fáceis de encontrar nas matas.

Outro instrumento para os observadores de batráquios que estará disponível em breve é o CD "Guia Interativo dos Anfíbios Anuros do Cerrado, Campo Rupestre e Pantanal". Além de mostrar imagens dos bichos e seus habitats, ele traz os cantos de 68 sapos, rãs e pererecas. Alguns lembram grilos, martelos, pássaros e apitos.

Ameaças

A maior ameaça hoje para os anfíbios é a perda de seus habitats. "Muitos estão hoje confinados a pequenas populações isoladas e vulneráveis", diz Ana Carnaval, pesquisadora brasileira da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA).

O problema da fragmentação é mais grave na mata atlântica, embora o número de extinções reais ainda seja motivo de debate.

Outra ameaça em potencial é o quitrídio, um fungo que tem dizimado anfíbios no exterior e já ocorre no Brasil. A doença, que tem sido associada com o aquecimento global, infecta a pele dos sapos, matando-os por asfixia- já que eles dependem da pele para respirar.

LIVRO - "Anfíbios da Mata Atlântica" Célio Haddad, Luís Felipe Toledo e Cynthia Prado; ed. Neotropica, 243 págs., R$ 59

Não há consenso sobre número de ameaçados

Não há consenso sobre o número real de anfíbios em risco de extinção no Brasil. Há três listas com dados divergentes.

A lista oficial do Ibama (órgão ambiental do governo federal), por exemplo, aponta 15 espécies ameaçadas e uma já extinta. No entanto, há quem conteste a manutenção da espécie Phyllomedusa ayeaye, a perereca-de-folhagem-com-perna-reticulada, na relação. Estudos mostram que as áreas de distribuição geográfica da espécie são maiores e que ela não está ameaçada.

A lista do Ibama foi publicada em 2003 e, depois, o GAA (Avaliação Global de Anfíbios) convidou um grupo de brasileiros para fazer nova análise.

A equipe concluiu que o número de espécies sob risco no país era 24. Alguns pesquisadores questionam a inclusão de espécie Physalaemus atlanticus, a rãzinha-da-praia, na lista. Ela pode ser vista na costa Sudeste, de Santos até Parati.

O GAA, porém, ainda fez uma terceira lista, com um número bem maior de anfíbios ameaçados no Brasil -a lista tem cerca de cem espécies. A relação foi alvo de críticas de brasileiros.

Extinção por fungo

O fungo quitrídio por enquanto não amedronta pesquisadores com a possível extinção de anfíbios no país. Em algumas áreas, como Monte Verde e Camanducaia (MG), os animais estão muito infectados. No entanto, os sintomas da doença não têm sido verificados. "O fungo parece atualmente coexistir com várias espécies sem causar maiores danos", diz a pesquisadora Ana Carnaval.

Segundo ela, as investigações continuam, e pesquisadores envolvidos com o tema em breve terão novos resultados sobre o parasita em populações brasileiras, inclusive na Amazônia.