O Brasil atingiu uma marca histórica em 2025: pela primeira vez, as mulheres representam a maioria dos médicos em atividade no país. Segundo a nova edição do estudo Demografia Médica no Brasil, publicado nesta quarta-feira (30) pelo Ministério da Saúde em parceria com a Faculdade de Medicina da USP, o país encerra o ano com mais de 635 mil médicos, o dobro registrado em 2010.
Hoje, são 2,98 médicos para cada mil habitantes. A projeção é que, mantendo o ritmo atual, o Brasil alcance 1,15 milhão de médicos em 2035, com uma razão de 5,2 por mil habitantes — número superior ao de países como Estados Unidos e Coreia do Sul, mas ainda abaixo da média da OCDE (3,7).
O relatório também aponta para fortes desigualdades regionais. As capitais continuam concentrando a maior parte dos profissionais. No Sul, há 10,26 médicos por mil habitantes nas capitais, enquanto o Norte tem apenas 6,95. Fora dos grandes centros, os índices caem drasticamente: Roraima (0,13) e Amazonas (0,20) estão entre os piores casos.
O cenário é ainda mais preocupante no interior. No Sudeste, há 2,64 médicos por mil habitantes em cidades menores. No Norte, esse número despenca para 0,75. Em São Paulo, o interior lidera, com 2,70 médicos por mil, mas outros estados não acompanham o mesmo ritmo.
O estudo também mostra o impacto das políticas de cotas: um em cada dez estudantes de medicina hoje entra por meio de ações afirmativas. Para especialistas, o desafio agora é equilibrar a distribuição dos profissionais pelo território nacional.
"Temos uma concentração muito grande nas capitais. É preciso discutir uma carreira pública para os médicos que leve esses profissionais às regiões que mais precisam", defendeu Heloísa Bonfá, diretora da Faculdade de Medicina da USP.