O Ministério da Saúde divul gou ontem que o Brasil tem 433 casos suspeitos de novo coronavírus (Sars-Cov-2). Nenhum novo caso foi confirmado neste novo balanço e o país permanece com dois casos confirmados da doença Covid-19. Os dois infectados são brasileiros que estiveram recentemente na Itália. Os dois seguem em isolamento domiciliar. O atual número de casos representa um aumento de 71%. De acordo com o ministério, o balanço não foi atualizado ao longo do fim de semana, o que teria contribuído para o salto. No domingo, o número de casos suspeitos era de 252.
Ao todo, 162 casos foram descartados desde o início do monitoramento. O ministério não apontou nenhum "caso provável", que é uma nova categoria incluída pela pasta entre as possíveis em seus balanços. Um caso provável será aquele do paciente que apresentar sintomas e tiver tido contato direto com uma pessoa que teve Covid-19 confirmado. Mortes pelo mundo O balanço mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), que apresenta dados de domingo (1º), apontava 2.977 mortes causadas pelo coronavírus. Somando as mortes noticiadas nesta segunda desde o boletim da OMS, houve cerca de 3.030 mortes entre quase 90 mil casos confirmados da doença no mundo. Vacina contra outras doenças Não há vacina contra o coronavírus. Apesar disso, o ministério reforçou a importância de que todo o público alvo seja vacinado na campanha regular contra a gripe. Isso porque, entre os casos descartados no atual monitoramento, há 27 casos de Influenza, que já pode ser evitada com a vacinação. Neste ano, o governo antecipou a campanha de vacinação da gripe no Brasil: o início está previsto para 23 de março. Serão distribuídas 75 milhões de doses no período de vacinação.
Código genético de vírus de dois brasileiros com coronavírus é diferente
O código genético do vírus detectado no primeiro paciente com o Sars-Cov-2 no Brasil é diferente do que foi encontrado no segundo brasileiro com a doença confirmada. O trabalho também foi divulgado em 48 horas, mesmo tempo que demorou para a publicação dos dados do primeiro caso confirmado, na última sexta-feira (28). O trabalho tem sido conduzido pelo Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), coordenado pela diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, Ester Sabino, e pelo cientista Nuno Faria, da Universidade Oxford.
A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp). Sabino explica que o primeiro vírus isolado se parece mais com o que foi sequenciado na Alemanha com duas mutações similares. Já o segundo brasileiro infectado tem o coronavírus mais parecido com o detectado na Inglaterra. "Ambos são diferentes das sequências chinesas. Isso sugere que a epidemia está ficando madura na Europa, ou seja, está ocorrendo transmissão interna entre países", disse Sabino. Se todos os pacientes existentes na Europa tivessem vindo da China diretamente, a sequência genética do vírus seria mais parecida com a encontrada em Wuhan e na província de Hubei, de acordo com os pesquisadores.
A cientista brasileira lembra, no entanto, que a mutação de um vírus é uma coisa natural. O sequenciamento e a comparação servem para traçar um panorama e um possível caminho das infecções. Nuno Faria, pesquisador parceiro de Sabino, participou do sequenciamento do vírus da zika no Brasil há quase 5 anos. Ele viajou em um micro-ônibus pelo Nordeste coletando amostras e explica que, em comparação com o vírus que atingiu o país em 2016, o sequenciamento do coronavírus é mais simples.
"Os conhecimentos do zika eram mais iniciantes. Em 2016, começamos a desenvolver as ferramentas. Agora nós temos mais experiência", disse. "O vírus da zika tinha uma carga viral mais baixa. Era mais difícil detectar o RNA viral no zika. A janela da oportunidade era bem mais curta, porque podíamos sequenciar de dois a três dias após o início dos sintomas e muitas vezes as amostras não eram coletadas". De acordo com o pesquisador, desde maio de 2015, foram 500 genomas do zika sequenciados. No caso do Sars-CoV-2, desde janeiro já foram 150. Os dois vírus do novo coronavírus isolados no Brasil são estudados por grupo coordenado por Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo laboratório do Instituto Adolfo Lutz, e por Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda em medicina pela USP, que também esteve na pesquisa com Faria sobre o zika.