Um comitê de 16 cientistas recrutado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) publicou hoje um relatório com recomendações na área da inteligência artificial (IA). Segundo os especialistas, o atraso do país no campo é preocupante, há fuga de cérebros no setor, e se uma política de estado não for estabelecida, o Brasil será jogado ainda mais para baixo no cenário de desigualdade tecnológica global.
O documento "Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil", um sumário executivo de 24 páginas, está sendo lançado nesta manhã em um evento na sede da ABC no Rio de Janeiro, com presença dos especialistas que o produziram. O trabalho foi liderado pelo cientista da computação Virgílio Almeida, professor da UFMG.
Os cientista avaliam que o Brasil tem condições de se inserir em um grupo seleto de 15 países que estão impulsionando a IA no mundo, mas afirma que isso não vai acontecer sem vontade política para tal.
"Embora o país tenha cientistas mundialmente renomados em diversas áreas — inclusive em IA —, falta a massa crítica necessária para impulsionar avanços tecnológicos significativos", escrevem os pesquisadores.
O comitê de cientistas aponta que o atraso é ainda maior na área de inovação do que na de pesquisa pura, o que pode comprometer a competitividade da economia brasileira no futuro.
"O Brasil não pode correr o risco de ser apenas um usuário de soluções IA concebidas no exterior", escrevem. "A dependência de outros países e de grandes empresas nesta área pode prejudicar a segurança e a soberania nacional, além da competitividade das empresas nacionais no país e no exterior."
O relatório reconhece que existe algum esforço de concertação para compensar o atraso, mas que ele está muito circunscrito a São Paulo, e não há ainda proposta clara de política nacional para o setor.
"Uma possibilidade seria explorar a criação de programas ou de uma agência nos moldes da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), focada no desenvolvimento e adoção de IA", dizem os cientistas da ABC. "O orçamento dessa agência deve ser compatível com os investimentos de outros países com protagonismo tecnológico — algo em torno de R$ 1 bilhão por ano pelos próximos cinco anos."