O atraso do Brasil na área da inteligência artificial (IA) é preocupante, há fuga de cérebros no setor e, sem uma política de Estado, o país ficará ainda mais para trás no cenário de desigualdade tecnológica global. Essa é a avaliação do relatório "Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil", elaborado por um comitê de 16 cientistas recrutado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e divulgado ontem.
Os cientistas avaliam que o Brasil tem condições de se inserir no seleto grupo de 15 países que estão impulsionando a IA, mas afirmam que isso não vai acontecer sem vontade política. "Embora o país tenha cientistas mundialmente renomados em diversas áreas " inclusive em IA ", falta a massa crítica necessária para impulsionar avanços tecnológicos significativos", afirmam os pesquisadores.
"O Brasil não pode correr o risco de ser apenas um usuário de soluções IA concebidas no exterior", dizem. "A dependência de outros países e de grandes empresas nesta área pode prejudicar a segurança e a soberania nacional, além da competitividade das empresas nacionais."
O relatório reconhece haver algum esforço de concertação para compensar o atraso, mas ressalta que ele está muito circunscrito a São Paulo e que falta uma proposta clara de política nacional.
"Uma possibilidade seria explorar a criação de programas ou de uma agência nos moldes da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), focada no desenvolvimento e adoção de IA", dizem os cientistas da ABC. "O orçamento dessa agência deve ser compatível com os investimentos de outros países com protagonismo tecnológico " algo em torno de R$ 1 bilhão por ano pelos próximos cinco anos."
O relatório também expressa preocupação com a demora do país em criar uma regulação para o setor, devido aos danos potenciais da tecnologia.
Para o cientista da computação e professor da UFMG, que liderou o trabalho, se o Brasil ficar para trás, "aumentará a distância entre o desenvolvimento econômico aqui e o do mundo desenvolvido."
(Rafael Garcia)