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A Cidade (Ribeirão Preto)

Brasil já pode produzir laser compacto (1 notícias)

Publicado em 15 de agosto de 2004

Por Guto Silveira
Clareamento dentário, cirurgias oftalmológicas, retirada de marcas de expressões faciais e tatuagens podem ganhar um equipamento nacional. Muitos dentistas já utilizam o clareamento por meio de lasers, mas ainda precisam importar o equipamento e se submeter aos sabores de uma manutenção a alguns milhares de quilômetros de distância. Mas a produção nacional de lasers compactos está próxima. Basta alguma empresa demonstrar interesse em produzir. "O mais importante é poder bloquear a importação e reduzir custos", afirma Luiz António de Oliveira Nunes, coordenador do LLA (Laboratório de Lasers e Aplicações), do IFSC (Instituto de Física de São Carlos). A descoberta pode provocar um salto tecnológico na produção de lasers. A grande novidade está exatamente no tamanho do cristal usado na geração do feixe de luz, que permite a sua utilização no formato, por exemplo, de uma caneta, possibilitando movimentos precisos nas mãos de médicos e dentistas. "Nossas pesquisas abrem espaço para a produção nacional de lasers compactos", afirma Nunes. Para considerar a importância da pesquisa feita em São Carlos, é necessário entender que um laser - palavra formada pelo acrônimo em inglês de Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, ou amplificação de luz por emissão estimulada de radiação - é constituído por um meio ativo (nesse caso um cristal, mas poderia ser um gás ou um líquido) adaptado a uma cavidade óptica (espaço entre dois espelhos onde a luz é confinada e passa várias vezes pelo cristal) onde acontece a geração de luz. Para tanto, é necessário que o meio ativo receba uma fonte de energia externa como uma lâmpada de flash ou um outro laser (de diodo menor e mais barato). Quanto maior a capacidade de absorção e conversão da energia luminosa da fonte externa de luz laser, mais eficiente é o meio ativo. No caso do laser desenvolvido pelos pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos, o cristal é uma fibra monocristalina. Isso significa que ela não é um agregado de pequenos cristais como no caso das cerâmicas. Trata-se de apenas um grão crescido em três dimensões. Para obter o cristal, os pesquisadores usaram compostos químicos com óxidos dos minerais ítrio, neodímio e vanádio que reagem entre si e compõem a fórmula YVO4:Nd3+. "A fibra monocristalina com formato de um cilindro e medindo cerca de 0.5 milímetro de diâmetro e um milímetro de comprimento pode substituir os chamados cristais bulk (peças maiores obtidas por técnicas de crescimento de cristais sofisticados e de alto custo) utilizados normalmente para a produção de aparelhos de lasers compactos", explica a química Andréa Simone Stuchi de Camargo, da equipe de pesquisadores. Os dois materiais, a fibra e o cristal bulk, têm propriedades ópticas, físicas e mecânicas idênticas, só diferindo no tamanho. "Nosso trabalho consistiu no estudo das características ópticas e do comportamento dos íons ativos nessa fibra para otimizar os processos de absorção e de emissão de luz", conta Andréa, que desenvolveu a pesquisa como tese de doutorado. O trabalho dos pesquisadores ganhou grande repercussão internacional da mídia especializada. Em três anos, e ao custo de cerca de US$ 100 mil, o protótipo está pronto e testado.