A Brasil Ferrovias, controladora da Ferronorte, Ferroban, Novoeste e Portofer, encontrou uma maneira mais eficiente de combater o mato que cresce ao longo dos 4,5 mil quilômetros de linha nos quais opera. Utilizará uma composição com uma locomotiva e quatro vagões dotados de um aparato capaz de monitorar pontos críticos e controlar a aplicação de herbicidas na faixa de 8 metros que forma o domínio do corredor de trilhos. É a primeira composição montada no Brasil com esta finalidade.
O contrato assinado com a Infrajato, pequena empresa instalada no núcleo de desenvolvimento empresarial da incubadora de empresas de Botucatu/SP, prevê duas pulverizações por ano em toda a malha no próximo biênio. O valor do contrato é de R$ 1,8 milhão, incluídos os custos de herbicida.
A previsão é que ao final de quatro anos boa parte da vegetação - que se desenvolve por entre lastros de pedras, dormentes e trilhos - seja eliminada definitivamente. A Brasil Ferrovias ainda não dispõe de levantamento completo sobre custos para manter a malha de trilhos limpa, tampouco qual o prejuízo com a operação de locomotivas em trechos que tenham grande quantidade de mato sobre a linha, mas afirma que esta é uma despesa importante para a operadora.
"Este é um levantamento complexo, mas temos a certeza de que a tecnologia embarcada nesta composição que passa a ser responsável pelo controle da vegetação já significa um custo muito menor", afirma João Gouveia Ferrão Neto, diretor de operações da Brasil Ferrovias.
Os itens desta conta são variados. Além das constantes aplicações de herbicidas nas linhas, há problemas operacionais provocados pelo mato, como a movimentação do lastro de pedras que sustentam os trilhos e o apodrecimento rápido de dormentes. Outro problema é a elevação do consumo de diesel das locomotivas. "O esmagamento do mato sobre os trilhos libera um sumo que chega a provocar a patinação dos eixos de tração das locomotivas, sobretudo em trecho com declive", explica Ferrão.
A composição, cuja autonomia é de 300 quilômetros, é formada por uma locomotiva e quatro tipos de vagões, uma prancha para o pulverizador, um tanque com capacidade para até 36 mil litros, um para almoxarifado de herbicidas e oficina e um como dormitório e cozinha. O projeto foi custeado com recursos do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp).
O custo total de desenvolvimento chegou a R$ 250 mil. A tecnologia foi desenvolvida em parceria entre a Infrajato e pesquisadores da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu).
O trem não terá a função exclusiva de eliminar o mato. Fará o monitoramento de todo tipo de gramíneas que cresce ao longo da linha e terá a finalidade de mensurar a quantidade de herbicida a ser aplicado. O sistema terá duas funções na primeira fase de operação.
O glifosato será diluído em água por misturadores no momento da pulverização do veneno sobre a vegetação. Numa das composições haverá tanques para armazenamento da água e do glifosato. Além disso, um radar de solo ajudará os equipamentos de mistura e injeção a calibrar a dose do herbicida que será aplicado. Segundo Amilton Cardoso Nogueira, diretor da Infrajato, a aplicação seguirá os limites definidos previamente independente da velocidade da composição.
Um segundo aplicativo será incorporado ao sistema, afirma Nogueira. Um software receberá informações de um GPS. Dependendo da localização da composição, as doses aplicadas serão alteradas pelo computador de bordo. Isso pode evitar o lançamento de herbicidas em áreas próximas a mananciais ou de áreas de preservação ambiental.
Este tipo de controle agiliza a cobertura da malha, já que os controles automáticos a composição não precisa parar. Na primeira fase serão feitos levantamentos dos tipos de mato, altura e a distância da vegetação da malha. Estes dados serão base para mapeamento completo das linhas, o que ajudará no controle nos próximos anos.
Notícia
Gazeta Mercantil