O Ministério da Ciência e Tecnologia anunciou que a União destinará R$ 1,3 bilhão a 1,9 mil pequenos empreendimentos que tenham conhecimento como base, nos próximos quatro anos. A iniciativa prevê a entrega de R$ 120 mil para cada empresa selecionada em 2009 e outros R$ 120 mil no próximo ano, estes considerados como empréstimo, com devolução em até cem parcelas. Segundo o ministério, o Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) destinará esse recurso a empresas com até dois anos de vida com uma perspectiva bem definida :"É dinheiro dado mesmo".
O projeto parte de uma significativa pretensão: o Prime será lançado em 17 editais regionais concomitantes. É uma decisão curiosa porque a realidade desse tipo de esforço dirigido de pesquisa não é dispersivo em termos da oferta de recursos. Há um conceito básico nesse processo, o de "encadeamento dinâmico", um círculo virtuoso que envolve a relação entre pesquisa e ambiente de negócios que se realimenta e se reproduz naturalmente. É o caso da concentração de indústrias intensivas em tecnologia no Estado de São Paulo, um reflexo de um tipo definido de convivência entre ciência e negócios. É exatamente por essa razão, por essa concentração, que 55% da ciência que é produzida no País ocorre em São Paulo. Esse índice permanece inalterado há dez anos, como mostram os dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Esse fato sugere que a dispersão de recursos em 17 polos pode não ser a melhor escolha para um programa desse tipo. O Brasil tem alguns centros de busca de tecnologia específicos que devem ser incentivados antes que se abram novas frentes. O mundo desenvolvido não faz esse tipo de dispersão quando aloca recursos para pesquisa e desenvolvimento, em especial os de fundo perdido.
Vale notar que o projeto da Finep, por outro lado, pretende contar com a participação das chamadas incubadoras tecnológicas, que abrigarão empreendimentos de porte muito menor, ao longo de doze meses. A perspectiva do governo é de que, hoje, o Brasil dispõe de inúmeros jovens que saem da universidade para buscar emprego no mercado, e o governo quer criar um ambiente propício que eles busquem também a opção de criar uma empresa de conhecimento, estimulando o cenário de inovação no País. Por mais bem intencionada que seja tal perspectiva sustentando esse programa, a evolução da pesquisa aplicada no mundo não cumpriu esse roteiro.
É preciso observar que escolhas de apoio à pesquisa e desenvolvimento não condizentes às necessidades reais conduziram o País a uma situação de atraso crônico na procura por inovação tecnológica. É verdade que a crise econômica desacelerou em 6,9%, abaixo da média dos três últimos anos, o número de patentes registradas em 2008, como revelou em janeiro a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi). Historicamente, o registro de patentes cai nos períodos de dificuldade econômica, mas empresas da Coreia do Sul e da China foram as que mais preservaram em 2008 a capacidade de inovação. Como nos exercícios anteriores, os EUA em 2008 tiveram mais patentes solicitadas: 52.521 pedidos, 32,7% do total., porém 1% a menos dos registrados em 2007. O Japão está em segundo lugar, com 17,5% do total, alta de 3,6%, apesar da crise., Depois, vêm pela ordem: Alemanha, Coreia do Sul, França, China, Reino Unido, Holanda e Suécia. Uma multinacional chinesa lidera esse ranking, com 1.737 patentes requeridas, seguida por uma empresa japonesa e por uma holandesa.
A posição brasileira nesse quadro é preocupante, principalmente no que diz respeito ao bom uso dos recursos para gerar inovação tecnológica. Como mostrou estudo de escritório de advocacia especializado no assunto, o Brasil registrou 27 patentes a cada US$ 1 bilhão investido em P&D, ante 103 no Japão e 129 na Coreia. O Brasil ocupa o 27º lugar na relação entre PIB e produção de patentes. A comparação no bom uso de recursos investidos em ciência é dramática para o País: para cada US$ 1 milhão alocado em investigação científica foi gerado 0,29 patente. Na Coréia esse mesmo milhão produz 5 patentes; no Japão, 3,3; na Nova Zelândia, 1,8; e na Rússia, até 1,5. Vale lembrar, como comparação, que o PIB coreano no ano passado foi de US$ 1,05 trilhão, com 49,5 milhões de habitantes. Nesse mesmo parâmetro o PIB brasileiro alcançou US$ 1,6 trilhão, para uma produção de ciência e tecnologia muito menor. Esse quadro precisa mudar.