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Brasil é um dos países mais atingidos por fake news na pandemia, aponta estudo da USP (10 notícias)

Publicado em 04 de setembro de 2020

A mentira mata.

Na pandemia do coronavírus, as fake news e a desinformação causada por diversas fontes duvidosas de informação provocam estragos no combate ao verdadeiro inimigo, o vírus, expondo pessoas a risco e acarretando até mesmo casos fatais.

O tema é tão sério que mereceu um projeto para estudar o impacto da disseminação sistemática de desinformação na eficácia das medidas de combate à pandemia no Brasil, Estados Unidos e Reino Unido.

Os primeiros resultados foram apresentados por Renan Leonel, pesquisador na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Antes restrito a grupos articulados em torno de interesses religiosos ou econômicos e aos amantes de teorias da conspiração, de acordo com o que disse Leonel à Agência Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa de São Paulo), o negacionismo científico tem ganhado corações e mentes nos últimos anos por intermédio das redes sociais.

Com a chegada da Covid-19, o fenômeno se intensificou e o que era a contracorrente tornou-se, em alguns casos, discurso oficial e política de Estado --Brasil incluso.

“A sociologia da ignorância estuda a produção de desinformação e mecanismos de descrédito da ciência oficial em um ambiente de caos, sem controle. Mas me interessei em propor o projeto por entender que a produção de ignorância em si está se tornando um ator capaz de comprometer os instrumentos de produção do conhecimento”, disse Leonel.

“A partir do momento que existe uma estrutura tão forte e tão presente na sociedade como as redes sociais, cientistas, divulgadores científicos e jornalistas de ciência passam a ter um trabalho adicional. Além de comunicar a ciência, é preciso comunicar claramente à sociedade o que não é ciência.”

O projeto se chama ‘Viral agnotology: Covid-19 denialism amidst the pandemic in Brazil, United Kingdom, and United States’ (Agnotologia viral: negação da Covid-19 em meio à pandemia no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos).

O estudo concorreu com outras 1.300 propostas no mundo e foi selecionado em uma chamada lançada pelo Social Science Research Council of New York, em parceria com a Herny Luce Foundation.

Leonel explicou que o termo agnotologia, cunhado nos Estados Unidos, se refere ao estudo dos fenômenos de produção política e cultural da desinformação.

Trata-se de processo socialmente induzido e que visa a promoção deliberada da ignorância ou da incerteza na opinião pública acerca de algum tópico.

BRASIL.

Segundo Leonel, o estudo começou com a análise, em parceria com um colega da Columbia University, dos resultados gerados pela pandemia em termos de produção do conhecimento.

Mas os dois cientistas se depararam com uma “verdade inconveniente”: a gravidade da crise causada pela Covid-19 provocou uma verdadeira explosão de desinformação, à qual a sociedade vem reagindo, em alguns casos, de forma inesperada.

Leonel disse que, no Reino Unido, o fenômeno foi mais acentuado nos primeiros meses, e que continua forte no Brasil e nos Estados Unidos.

“O fenômeno tem ocorrido nos três países de forma muito semelhante e parece estar ligado ao surgimento de movimentos de extrema direita.”

No Brasil, os pesquisadores encontraram um “enorme cardápio de desinformação”, que vai desde a defesa do isolamento vertical até o uso de cloroquina e de vermífugo para prevenir a doença.

“Não por acaso somos um dos países que menos sucesso teve no achatamento da curva epidêmica”, declarou.

Para o pesquisador, o Brasil foi o “mais impactado pela produção sistemática de desinformação por ter uma educação para a ciência bem menos consolidada que a britânica e norte-americana, além de uma população com menos anos de estudo em média”.

“Além disso, os instrumentos de comunicação científica, que são necessários para contrabalancear a produção de ignorância e fazer a informação chegar até as pessoas, são mais frágeis no país.”

Leonel disse que o levantamento mostra que os jornais brasileiros não tinham uma abordagem sólida no que se refere às evidências científicas sobre o novo coronavírus e que boa parte da comunicação científica no Brasil foi feita por pessoas de fora dos órgãos oficiais, como youtubers, blogueiros e comentaristas convidados pelos veículos de imprensa. “Os Estados Unidos têm meios de comunicação científica bem mais antigos e estruturados”.

té 800 pessoas morreram no mundo por informações falsas da Covid, alega estudo

Estudo publicado no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene afirma que ao menos 800 pessoas morreram ao redor do mundo por causa de informações falsas relacionadas à pandemia de Covid-19 nos três primeiros meses do ano. Muitas delas morreram após ingerir metanol ou produtos de limpeza à base de álcool por acreditarem erroneamente que esses produtos eram a cura para o vírus.

Outras 5,8 mil pessoas deram entrada em hospitais por causa de informações falsas recebidas em redes sociais. Os pesquisadores analisaram 2.311 registros de boatos, estigmas e teorias conspiratórias em 25 línguas em 87 países. Quase 25% eram ligados à doença, transmissão e mortalidade e 21%, a tratamentos e curas que não funcionam.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que a "infodemia" em torno do coronavírus se espalha tão rápido quanto o vírus, com teorias e boatos..