No mapa da alta tecnologia mundial, nenhum ponto é mais brilhante que o Brasil para a indústria norte-americana. De 1994 a 1996, as vendas dos Estados Unidos para o País aumentaram de US$ 2,32 bilhões para US$ 4,06 bilhões, com um salto de 237,3% nas exportações desde o início da década.
No mesmo período, o mercado brasileiro liderou o "ranking" dos países com maior expansão per capita de telefones celulares, com um surpreendente salto de 363.000%. No segmento de computadores, o crescimento de 373% só foi inferior ao da China (497%) e Rússia (452%).
Os dados, divulgados ontem, fazem parte do "Cybernation", um amplo estudo realizado pela American Electronics Association (AEA), principal porta-voz do setor nos EUA, e a Nasdaq Stock Market, primeira bolsa de valores eletrônica do mundo, integrada por 5,5 mil companhias.
"O Brasil continuará a ser um importante mercado para a indústria de alta tecnologia dos EUA e seria ainda maior não fossem a tarifa de importação de 35% e algumas barreiras não-tarifárias, como a exigência de conteúdo local", avaliou William T. Archey, presidente e principal executivo da AEA.
Brasil é maior mercado de tecnologia para EUA
Maria Helena Tachinardi - de Washington
Exportações norte-americanas cresceram 237% em seis anos; número per capita de celulares no País explodiu no período
Brasil é o mercado mundial que, nos dois últimos anos, absorveu mais rapidamente os produtos norte-americanos de alta tecnologia: computadores, eletrônicos, semicondutores, software, equipamentos médicos e de comunicações. As vendas dos Estados Unidos ao País Saltaram de US$2,32 bilhões em 1994 para US$ 3,36 bilhões em 1995 e US$ 4,06 bilhões em 1996. De 1990 até o ano passado, o crescimento das exportações dos EUA para o mercado brasileiro atingiu 237,3%. Nesse mesmo período, com um salto de 363.000%, o Brasil liderou o "ranking" dos paises com maior expansão per capita de telefones celulares e classificou-se em terceiro lugar, com 371%, em termos de aumento per capita do use de computadores, atrás somente da China (497%) e da Rússia(452%0).
"0 Brasil continuara a ser um importante mercado para a industria de alta tecnologia dos EUA e seria ainda maior não fossem a tarifa de importação de 35% e algumas barreiras não-tarifárias, como a exigência de conteúdo local", disse a este jornal William T. Archey, presidente e principal executivo da American Electronics Association (AEA), ao divulgar, ontem, o estudo "Cybernation", elaborado em conjunto com a Nasdaq Stock Market.
A AEA, com três mil associados, e a principal porta-voz da indústria de alta tecnologia norte-americana. A Nasdaq, primeiro mercado eletrônico de ações, em operação desde 1971, e integrada por mais de 5,5 mil indústrias lideres nos setores de computação, processamento de dados, farmacêutico, de telecomunicações, biotecnologia e serviços financeiros. O presidente da entidade, Alfred Berkeley, salientou que no pregão eletrônico são comercializadas ações de 93% das empresas de software dos EUA, de 79% dos fabricantes de hardware. No total, esse mercado de capitais e superior a US$ 886 bilhões, cifra equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
O relatório produzido pelas duas entidades informa que os mercados que mais cresceram de 1990 a 1996 foram os da Ásia e da América Latina, onde despontam a Argentina, com 351% de expansão, o Brasil (237%) e o México (144%). Um dado positivo para a economia brasileira e que as exportações de alta tecnologia para os EUA, país líder nessa área, também cresceram: 79,9% de 1990 a 1996, sendo que o principal salto se deu de 1995 para o ano passado, quando as vendas subiram de US$ 226 milhões para US$ 302 milhões. Mas os EUA continuum acumulando saldos positivos crescentes no comercio de tecnologia avançada com o Brasil: US$ 3,14 bilhões em 1995 e US$ 3,76 bilhões em 1996. Esse superavit, Segundo o estudo, e o terceiro maior entre os parceiros comerciais dos norte-americanos.
Mais que o "pacote" fiscal, com medidas que reduzirão o consumo do brasileiro, o que realmente preocupa a American Electronics Association são as barreiras tarifarias e não-tarifárias e por isso a formação da Área de Livre Comercio das Américas (Alta), a partir de 2005, tornou-se essencial para aumentar a competitividade das empresas dos EUA no mercado latino-americano, principalmente porque a Europa e a Ásia estão bastante agressivas na região, observa Michaela D. Platzer, vice-presidente de pesquisas e tendências industriais da AEA e autora do "Cybernation".
Mesmo assim, "temos os produtos mais competitivos. Na Comdex (feira de informática que se realiza atualmente nos EUA), o preço médio de nossos computadores esta abaixo de mil dólares", diz. Segundo Michaela, "as tendências no Brasil tem lido excelentes em termos de computadores, telefones celulares e serviços relacionados com a Internet", mas se as barreiras persistirem e outros paises concorrentes avançarem nos acordos de livre comercio com o Mercosul e demais parceiros sul-americanos, o remédio para as companhias norte-americanas será fazer investimentos locais, instalando subsidiarias, para aproveitar as vantagens das tarifas reduzidas entre os blocos sub-regionais.
O documento ressalta a importância da integração comercial na América Latina, para onde as exportações "high tech" norte-americanas triplicaram, de US$ 3 bilhões em 1990 para US$ 9 bilhões em 1996. No mesmo período, as importações provenientes daqueles países dobraram, saindo de US$ 242 milhões para US$ 506 milhões. O superávit dos EUA foi de US$ 9 bilhões no ano passado. "0 Mercosul, com um Produto Inferno Bruto (PIB) de mais de US$ 1 trilhão, eliminou tarifas em aproximadamente 90% do comercio intra-regional desde janeiro de 1995 e esta criando novas oportunidades de negócios para a industria norte-americana de alta tecnologia", menciona o estudo.
A AEA esta preocupada com as dificuldades do presidente Bill Clinton na aprovação do "fast track", autorização do Congresso para o Executivo assinar acordos comerciais sem correr o risco de vê-los emendados. Sem esse mandato, cuja votação foi adiada para fevereiro, a Alca não avançará rapidamente e os EUA não poderão liderar uma segunda rodada de negociações do Acordo de Tecnologias da Informação (ITA), que reduzirá a zero as tarifas para produtos de informática no ano 2000. Esse acordo esta sendo negociado na Organização Mundial de Comercio (OMC).
Outros dados significativos reunidos no "Cybernation": o Brasil ocupou, entre 1994 e 1996, o sexto lugar entre os paises com maior crescimento per capita de telefones celulares (352%), sendo precedido pela Espanha (628%), Republica Checa (550%), Polônia (540%), Bulgária (470%) e Eslováquia (404%). Os outros quatro paises que se destacaram foram a Turquia (345%), as Filipinas (326%), a China (320%) e o Japão (312%).
Depois do Brasil, que comprou cerca de US$ 4 bilhões de produtos "high tech" dos EUA em 1996, despontam na região a Argentina, Colômbia, Chile e Paraguai, com US$ 1 bilhão cada. Do total de US$ 506 milhões de importações norte-americanas procedentes de paises vizinhos, US$ 302 milhões corresponderam ao Brasil, US$ 128 milhões a Costa Rica, US$ 34 milhões a El Salvador, US$ 12 milhões a Argentina e US$ 9 milhões ao Panamá.
Os mercados que mais adquiriram dos EUA no ano passado foram a União Européia (US$ 36 bilhões), o Canadá (24 bilhões), o Japão (US$ 18 bilhões), o México (US$ 13 bilhões) e Cingapura (US$ 8 bilhões). Por isso, o presidente da AEA disse que o abalo nos mercados financeiros emergentes, principalmente do Leste Asiático, não afetarão as vendas norte-americanas de produtos de alta tecnologia.
Esse setor, cujas exportações em 1996 superaram US$ 150 bilhões, cerca do dobro verificado em 1990, e responsável por 4,3 milhões de empregos, dos quais 1,9 milhão na área de manufaturados, constituindo-se na principal indústria empregadora, a frente da automobilística. Os salários "high tech" são 73% mais altos que a media paga pela indústria privada, diz o relatório.
A continuidade do crescimento da indústria de alta tecnologia nos EUA dependera, entretanto, de investimentos em educae5o e em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Archey fez um alerta: apesar de ser o país que em 1994 mais investiu em P&D (excluindo a área de defesa), os EUA ficaram atrás do Japão em termos de percentual do PIB — 2,5% versus 2,7%. O país continuaria, assim, a perder para os japoneses, que planejam dobrar seus gastos com P&D entre 1995 e 2000. A China, outro concorrente global, prevê triplicar seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento na virada do século.
Notícia
Gazeta Mercantil