Pesquisadores do Brasil e da China estão avançando em uma colaboração internacional para investigar os impactos das mudanças climáticas em ecossistemas tropicais dos dois países, dentre eles a Caatinga.
O projeto tem como objetivo analisar a influência da variabilidade climática e de eventos extremos, como o El Niño, na fenologia vegetal e suas implicações para a biodiversidade.
Dividido entre as instituições dos dois países, o projeto tem a Unesp Rio Claro liderando as atividades no Brasil, enquanto a Beijing Normal University coordena a pesquisa na China. A iniciativa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
A atuação da Embrapa Semiárido se concentra em dois aspectos: o primeiro é analisar o impacto de eventos climáticos extremos, como secas severas, na vegetação da caatinga. Já o segundo envolve o estudo das diferentes escalas espaciais e temporais aplicáveis ao monitoramento da vegetação.
“Estamos avaliando as interações do clima com a vegetação a partir de diversas tecnologias”, explica Magna Moura, pesquisadora da Embrapa.
No Campo Experimental da Caatinga, em Petrolina, uma torre de referência que mede fluxos de carbono, água, radiação, precipitação e umidade do solo, dentre outros parâmetros ambientais, conta com uma câmera fenológica acoplada, que observa diariamente as respostas das plantas às variações do tempo e do clima.
“Esse monitoramento é complementado com imagens de drone, que ampliam a área de observação para cerca de cinco hectares, e de satélites como o Landsat e o Modis, que oferecem uma visão mais ampla, com resoluções entre 30 e 500 metros”, relata Moura. O projeto combina esses dados da Caatinga com informações de outras regiões do Brasil e da China, permitindo uma análise mais abrangente dos impactos climáticos.
Pesquisa em biomas brasileiros
A coordenadora do projeto no Brasil, a pesquisadora Patrícia Morellato, da Unesp, ressalta que, além da Caatinga, o estudo também abrange a análise dos efeitos dos eventos climáticos na dinâmica foliar e na resposta da vegetação do Cerrado.
“Estamos vendo um aumento de secas extremas e chuvas intensas em várias regiões. Esse projeto nos oferece uma oportunidade única de avaliar a adaptação e a resiliência da vegetação brasileira e entender como as espécies desses dois biomas estão reagindo a esses eventos extremos”, afirma Morellato.
Com a utilização de torres de fluxo e câmeras especializadas para monitorar e fotografar a vegetação de forma sequencial, o projeto tem analisado o ritmo de produção e perda de folhas, correlacionando esses dados com gatilhos ambientais e eventos climáticos.
As torres de fluxo, instaladas em locais estratégicos na Caatinga e no Cerrado, permitem que as equipes comparem as respostas das plantas a fenômenos como o El Niño, que teve um impacto significativo no clima entre 2022 e 2023.
“Queremos descobrir se a vegetação se tornou mais ou menos produtiva após esses eventos extremos e como isso afeta a fotossíntese e a captação de carbono”, destaca a pesquisadora da Embrapa Magna Moura. A análise inclui a validação de padrões de vegetação detectados por satélite para verificar como o comportamento foliar é refletido nas imagens de sensoriamento remoto.
Impactos nos serviços ecossistêmicos
Além de monitorar a dinâmica foliar, o projeto também busca estimar como as mudanças fenológicas podem impactar serviços ecossistêmicos cruciais, como a produção de frutos. “O umbuzeiro, por exemplo, têm grande importância para as populações tradicionais do Semiárido, que dependem de seus frutos. Se a sincronia da produção de frutos for afetada, isso pode gerar sérias consequências para essas comunidades”, explica Morellato.
A coordenadora do projeto destaca ainda um dos aspectos inovadores do trabalho, que envolve o monitoramento fenológico de uma espécie em nível global. O Jacarandá ( Jacaranda mimosifolia Don.) foi escolhido como espécie piloto, devido à sua distribuição em 55 países. “Se esse piloto der certo, podemos replicá-lo para outras espécies e regiões, envolvendo mais pessoas e ampliando a coleta de dados”, conta a pesquisadora.
Morellato também enfatiza a importância da parceria internacional para aprimorar estratégias de adaptação e restauração de espécies diante das mudanças climáticas. “Este projeto fortalece as relações científicas entre Brasil e China e contribui para a compreensão dos efeitos globais das mudanças climáticas, oferecendo dados valiosos para a conservação e manejo sustentável dos ecossistemas”.
Comitiva chinesa visita Embrapa Semiárido
Como parte das ações do projeto, nos dias 21 e 22 de agosto, a Embrapa Semiárido recebeu uma comitiva de pesquisadores chineses para um intercâmbio científico. A delegação, composta por representantes de universidades chinesas (Beijing Normal University, East China Normal University e Zhejiang University) e pesquisadores da UNESP e da USP, iniciou sua visita ao site de referência em estudos de clima e vegetação da caatinga, onde fica a torre de fluxos – Caatinga-FLUX Tower, localizado na área de reserva legal no Campo Experimental da Caatinga.
Além da visita ao campo, o primeiro dia incluiu uma recepção pela Chefe-geral da Embrapa Semiárido, Maria Auxiliadora Coêlho de Lima, seguida de apresentações institucionais e palestras sobre fenologia vegetal e o impacto da variabilidade climática. As discussões contaram com a contribuição de especialistas da Unesp, USP e Embrapa, além de apresentações dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores chineses.
No segundo dia, o grupo continuou o intercâmbio científico no percurso da Trilha Ecológica da Caatinga, onde os pesquisadores foram apresentados as principais espécies da caatinga, seus usos e aspectos botânicos. Em seguida, a comitiva visitou plots permanentes onde são realizadas avaliações da fenologia e biomassa da caatinga, finalizando as visitas nas câmaras para estudos climáticos sob condições controladas da Embrapa Semiárido.
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Incêndios reduzem a qualidade do solo e aumentam os custos de produção
Na última semana, vários focos de incêndio foram registrados no estado de São Paulo. Muitos atingiram grandes proporções, causando morte de animais, perda de culturas agrícolas e prejuízos com infraestruturas rurais e urbanas.
Além do impacto econômico, social e ambiental, as queimadas afetam as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos. Grandes quantidades de carbono, nitrogênio, potássio e enxofre são perdidas para a atmosfera por volatilização durante a combustão.
De acordo com o pesquisador Alberto Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste, especialista em solos, em longo prazo, essa alteração no solo causada pelo fogo tem consequências na biodiversidade e na manutenção de processos ecossistêmicos.
Incêndios comprometem a produtividade
Pesquisas indicam que o fogo compromete a qualidade do solo e a produtividade no decorrer do tempo.
“A queima da cobertura vegetal deixa a área descoberta, levando a maior absorção da radiação solar, com ampliação da temperatura e do ressecamento ao longo do dia. Porém, à noite, ocorre a perda de calor pela exposição, elevando assim a amplitude das variações térmicas diárias”, afirma Bernardi.
Segundo ele, essas oscilações prejudicam a absorção de nutrientes e a biologia do solo. Outro problema é a erosão, pela ação do vento e o impacto da chuva, que leva à compactação ou selamento superficial. “O resultado é a menor infiltração de água e aumento do escoamento superficial”.
Recuperação do solo
A recuperação do solo pode levar cerca de três anos, com custos elevados para os produtores, que precisam investir no fornecimento de nutrientes para restaurar a área afetada.
A renovação da vegetação logo após a queimada pode deixar uma impressão positiva , no entanto, o efeito é apenas temporário.
Essa brotação de novas plantas ocorre porque as cinzas são compostas por grande quantidade de nutrientes (cálcio, magnésio e potássio, principalmente) estocados na fitomassa e liberados na superfície do solo com o fogo.
As cinzas são alcalinas, ou seja, neutralizam a acidez superficial e favorecem o crescimento de plantas. Mas parte das cinzas será levada para fora do local de queima, seja pela ação do vento ou do escoamento superficial pela chuva.
Contudo, em longo prazo, o estoque de carbono do solo é perdido, porque a baixa disponibilidade de nutrientes levará a maior mineralização da matéria orgânica armazenada.
“Então, vários processos são prejudicados pela perda dessa matéria orgânica, entre eles a capacidade de troca catiônica (CTC), estabilidade dos agregados, porosidade, infiltração de água, atividade e diversidade de micro, meso e macrofauna do solo”, conta o especialista.
Para o pesquisador, um solo de qualidade, exercendo todas suas funções, auxilia no alcance de vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) , tais como os relacionados à redução da fome (ODS 2) e à pobreza extrema (ODS 1 e 3), melhoria da proteção do meio ambiente (ODS 6, 11, 12, 14 e 15) e do combate às mudanças climáticas (ODS 13).
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A cada 10% de severidade da mancha-alvo, quase 300 kg/ha podem ser perdidos em soja – MAIS SOJA
A mancha-alvo, causada pelo fungo ( Corynespora cassiicola ) é uma das principais doenças que acometem a soja, especialmente no Cerrado brasileiro. A boa distribuição de chuvas, atrelado a temperaturas amenas, favorecem o desenvolvimento da doença.
Danos
Dependendo da sensibilidade da cultivar e severidade da doença, as perdas de produtividade podem chegar a 40% caso as devidas medidas de controle não sejam adotadas (Godoy et al., 2023).
A agressividade da doença se manifesta quando a severidade de ataque é muito alta, estima-se que para provocar uma redução significativa na produtividade devido ao ataque da doença, é necessário que a severidade atinja aproximadamente 25 a 30% nas plantas de soja (figura 1) (Grigolli & Grigolli, 2019).
Considerando produtividades médias de soja de 3500 kg ha , para cada 10% de incremento de severidade da mancha-alvo, tem-se a redução de aproximadamente 168 kg ha . Entretanto, essa redução da produtividade pode variar em função da suscetibilidade da cultivar. Para cultivares consideradas tolerantes a mancha-alvo, essa redução de produtividade é de aproximadamente 77 kg ha , enquanto, para uma cultivar suscetível, a perda de produtividade pode chegar a quase 300 kg ha (Molina et al., 2019, apud. Assoni).
Severidade
Os pesquisadores Soares et al. (2009) desenvolveram uma escala diagramática para a avaliação da severidade da mancha alvo na cultura da soja. A aplicação dessa escala não apenas resulta em maior acurácia e precisão das estimativas realizadas, mas também se destaca como uma importante ferramenta de avaliação que é fácil e rápida de ser utilizada, podendo ser utilizada para o monitoramento da mancha alvo na cultura da soja.
Figura 1. Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha alvo da soja.
Controle
Para mitigar os efeitos da mancha-alvo em soja, é essencial posicionar os fungicidas adequadamente. No entanto, atualmente existem 147 defensivos registrados para o controle da mancha-alvo ( Corynespora cassiicola ) em soja, contemplando distintos grupos químicos e princípios ativos (Agrofit, 2024).
A eficiência dos principais fungicidas foi avaliada pela rede de ensaios cooperativos da Embrapa na safra passada, e os resultados podem ser observados clicando aqui!
Nesse sentido, nem sempre montar um programa eficiente de controle da mancha-alvo é algo fácil, tornando desafiador o manejo da doença, especialmente sob condições ambientais que favoreçam o seu desenvolvimento. Pensando nisso, a equipe +Soja preparou para uma mentoria exclusiva onde você pode discutir seu manejo e tirar duvidas com um dos melhores fitopatologistas do Brasil.
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Referências:
AGROFIT. CONSULTA DE PRAGA/DOENÇA. Ministério da Agricultura e Pecuária, 2024. Disponível em: , acesso em: 29/08/2024.
ASSONI, G. Mancha-alvo e os impactos na safra 19/20 da soja. BASF. Disponível em: , acesso em: 29/08/2024.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola , NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica, 194. Londrina – PR, 2023. Disponível em: , acesso em: 29/08/2024.
GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, cap. 6, Fundação MS. Maracaju – MS, 2019. Disponível em: , acesso em: 29/08/2024.
MOLINA, J. P. E. et al. META-ANALYSIS OF FUNGICIDE EFFICACY ON SOYBEAN TARGET SPOTAND COST–BENEFIT ASSESSMENT. Plant Pathology, 2019. Disponível em: , acesso em: 29/08/2024.
SOARES, R. M. et al. ESCALA DIAGRAMÁTICA PARA AVALIAÇÃO DA SEVERIDADE DA MANCHA ALVO DA SOJA. Tropical Plant Pathology, v. 34, n.5, 2009.Disponível em: , acesso em: 29/08/2024.
Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria