O Brasil está interessado na tecnologia nuclear dos indianos. "Nós temos muito tório, e a Índia também. Vale a pena saber o que eles estão fazendo, mas para fins pacíficos", disse o presidente Fernando Henrique Cardoso, que começou ontem sua visita oficial à Índia. O presidente citou, especificamente, o interesse brasileiro nas áreas de medicina e de irradiação de alimentos.
Um memorando de entendimentos sobre a questão nuclear será assinado até o final da viagem, informou o embaixador Ronaldo Sardemberg, secretário de Assuntos Estratégicos. O memorando fixará um prazo de cinco anos para que sejam definidos programas para a troca de informações! nas áreas de alimentos, medicina, meio ambiente e segurança na operação com material radioativo.
"Nós temos reservas de 1 milhão de toneladas de tório e de 300 mil toneladas de urânio e os indianos detêm a tecnologia de aproveitamento do tório, especialmente", disse o ministro. O documento não vai prever o fornecimento de combustível ou material nuclear para a Índia, sublinhou o embaixador. O memorando estará sujeito ao acordo de TlateIolco, assinado pelo Brasil e que proíbe o uso, entre seus signatários, do uso da energia nuclear para fins não-pacíficos.
Fernando Henrique procurou relativizar a pretensão brasileira de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). "O Brasil não está postulando uma candidatura própria. Está postulando uma reforma do sistema das Nações Unidas e, se for o caso, participaremos dependendo de em que nível isso venha a ser conveniente", disse ele. Num recado claro aos vizinhos latino-americanos, Cardoso afirmou que "o Brasil não quer, de forma nenhuma, estabelecer uma relação de competição, sobretudo regional. Nós achamos que outros países da América Latina também poderiam participar e estamos vendo com muita tranqüilidade essa matéria porque nós não temos nenhuma pretensão hegemônica".
A Argentina e o México postulam, junto com o Brasil, uma vaga no conselho e o governo brasileiro está fazendo gestões cuidadosas para não ferir suscetibilidades nacionais, revelou uma fonte diplomática da delegação que acompanha o presidente. Cardoso foi enfático, entretanto, ao apoiar a candidatura indiana. "A Índia é um país com as características adequadas para, numa ampliação do quadro, ser membro desse conselho", disse o presidente.
O Brasil também assinará um acordo fitossanitário com a Índia, revelou o ministro da Agricultura, José Eduardo Andrade Vieira. Esse acordo vai regularizar a importação de sêmen e embriões bovinos pelos produtores brasileiros, acabando com o contrabando que existe nessa área. Para o Brasil, o acordo vai beneficiar, especialmente, os exportadores de aves, que passarão a contar com um marco legal para a classificação do produto.
O presidente definiu sua viagem dentro da estratégia de política externa de seu governo, que busca uma aproximação com os grandes países do mundo em desenvolvimento. Países como o Brasil, a Índia, a China e a Rússia têm problemas semelhantes que devem ser colocados sob a mesma perspectiva, disse ele. "Nos fóruns internacionais, Brasil e Índia sempre combinaram suas políticas e agora com um mundo em que não há mais a predominância de blocos, é possível uma maior desenvoltura nessas relações", explicou Cardoso.
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Gazeta Mercantil