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Anba - Agência de Notícias Brasil-Árabe

Brasil desenvolve nova tecnologia para extração de petróleo (1 notícias)

Publicado em 10 de novembro de 2005

Por Alexandre Rocha

Com apoio da Petrobras, engenheiros da Universidade de São Paulo criaram o Mateos, motor linear que poderá servir como alternativa ao cavalo-de-pau, equipamento centenário utilizado na produção de óleo em terra. O novo produto promete economia de tempo e dinheiro com manutenção.

São Paulo - Engenheiros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova tecnologia que promete revolucionar a extração de petróleo em terra. Trata-se do Mateos, ou "Motor Assíncrono Tubular para Aplicação na Extração de Óleo Submerso", que poderá ser uma alternativa ao tradicional cavalo-de-pau, equipamento centenário utilizado para bombear petróleo.

O cavalo-de-pau, o leitor já deve ter visto na televisão ou em fotografias, fica instalado na superfície e faz um movimento para cima e para baixo, movimentando um conjunto de hastes que vai até o fundo do poço - profundidade que pode chegar a mil metros - e faz funcionar a bomba que extrai o petróleo.

Segundo o professor Ivan Eduardo Chabu, do laboratório de eletromagnetismo aplicado do Departamento de Energia e Automação Elétrica da Poli, com o uso contínuo e por causa das irregularidades do terreno, é comum as hastes sofrerem desgaste e até se romperem com certa freqüência. Além do custo da manutenção, a troca das peças pode demorar dias.

O Mateos é um motor linear de forma cilíndrica, cuja parte móvel, também cilíndrica, faz um movimento longitudinal. Afixado no fundo do poço, a máquina aciona a bomba, eliminando a necessidade do cavalo e das hastes. Sua única ligação com a superfície é um cabo elétrico.

Em busca de alternativas
Segundo Eduardo, um dos pais do projeto ao lado dos também professores Bernardo Alvarenga e José Roberto Cardoso, a idéia surgiu no final da década passada, quando a Petrobras começou a procurar alternativas para o sistema convencional de extração de petróleo. "Eles nos procuraram mas a gente não tinha o que eles queriam. Aliás ninguém tinha um produto pronto, só idéias", disse.

Em 2000, porém, a idéia acabou virando tese de doutorado de Alvarenga, orientando de Eduardo. Depois de conseguir um financiamento de R$ 50 mil na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os pesquisadores desenvolveram um protótipo do motor. "Então nós chamamos o pessoal da Petrobras para ver", contou Eduardo.
Em 2003, de acordo com o pesquisador, a Petrobras decidiu bancar a continuidade das pesquisas, como um financiamento de R$ 290 mil. Com os recursos, os engenheiros da Poli construíram um outro protótipo e uma bancada de testes.

"A USP e a Petrobras firmaram um contrato para desenvolvimento de um novo protótipo com dimensões revisadas e para submetê-lo a testes de verificação de esforços, capacidades, dentre outras características necessárias ao acoplamento do sistema de bombeamento mecânico submerso", disse Iberê Nascentes Alves, da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Petrobras.

Esta segunda fase foi dividida em três etapas. Na primeira foram fabricados os equipamentos; a segunda, que está terminando, envolve a "caracterização completa" do motor, ou seja, o desenvolvimento de todo o necessário para controlá-lo da superfície; e a terceira, que ainda está em planejamento pela Petrobras e a Poli, será o teste do equipamento em um poço de petróleo propriamente dito, o que vai envolver a construção de um terceiro protótipo.

"Hoje o protótipo que temos funciona com uma carga simulada, que imita o óleo. É lógico que o motor não sabe disso", afirmou Eduardo. Ele acredita que se tudo correr como planejado, o equipamento poderá entrar em produção comercial no prazo de dois anos.
Com o teste de campo, será possível verificar na prática as vantagens econômicas prometidas pelo novo sistema. Iberê Alves diz que ainda é cedo para fazer previsões sobre a economia. "Mas é razoável pensar que a expectativa é animadora", disse.

Segundo Eduardo, a patente do sistema para extração de óleo pertence à Petrobras. No entanto, a patente do motor em si, que eventualmente pode ser usado em outras aplicações, é da USP, dos pesquisadores envolvidos e da empresas Equacional Elétrica e Mecânica, que fabricou o primeiro protótipo.
"Como a Petrobras normalmente não fabrica equipamentos, e acredito que a USP também não, o que provavelmente irá acontecer é que, após a confirmação da viabilidade técnica do sistema, será realizada uma procura e seleção de um parceiro que deverá ser licenciado em termos de patente, e aí sim será possível a fabricação em escala industrial e venda desta tecnologia a terceiros, como qualquer outro método de elevação artificial de petróleo", concluiu Alves.