Com apoio da Petrobras, engenheiros da Universidade de São Paulo criaram o Mateos, motor linear que poderá servir como alternativa ao cavalo-de-pau, equipamento centenário utilizado na produção de óleo em terra. O novo produto promete economia de tempo e dinheiro com manutenção.
São Paulo - Engenheiros da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova tecnologia que promete revolucionar a extração de petróleo em terra. Trata-se do Mateos, ou "Motor Assíncrono Tubular para Aplicação na Extração de Óleo Submerso", que poderá ser uma alternativa ao tradicional cavalo-de-pau, equipamento centenário utilizado para bombear petróleo.
O cavalo-de-pau, o leitor já deve ter visto na televisão ou em fotografias, fica instalado na superfície e faz um movimento para cima e para baixo, movimentando um conjunto de hastes que vai até o fundo do poço - profundidade que pode chegar a mil metros - e faz funcionar a bomba que extrai o petróleo.
Segundo o professor Ivan Eduardo Chabu, do laboratório de eletromagnetismo aplicado do Departamento de Energia e Automação Elétrica da Poli, com o uso contínuo e por causa das irregularidades do terreno, é comum as hastes sofrerem desgaste e até se romperem com certa freqüência. Além do custo da manutenção, a troca das peças pode demorar dias.
O Mateos é um motor linear de forma cilíndrica, cuja parte móvel, também cilíndrica, faz um movimento longitudinal. Afixado no fundo do poço, a máquina aciona a bomba, eliminando a necessidade do cavalo e das hastes. Sua única ligação com a superfície é um cabo elétrico.
Em busca de alternativas
Segundo Eduardo, um dos pais do projeto ao lado dos também professores Bernardo Alvarenga e José Roberto Cardoso, a idéia surgiu no final da década passada, quando a Petrobras começou a procurar alternativas para o sistema convencional de extração de petróleo. "Eles nos procuraram mas a gente não tinha o que eles queriam. Aliás ninguém tinha um produto pronto, só idéias", disse.
Em 2000, porém, a idéia acabou virando tese de doutorado de Alvarenga, orientando de Eduardo. Depois de conseguir um financiamento de R$ 50 mil na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os pesquisadores desenvolveram um protótipo do motor. "Então nós chamamos o pessoal da Petrobras para ver", contou Eduardo.
Em 2003, de acordo com o pesquisador, a Petrobras decidiu bancar a continuidade das pesquisas, como um financiamento de R$ 290 mil. Com os recursos, os engenheiros da Poli construíram um outro protótipo e uma bancada de testes.
"A USP e a Petrobras firmaram um contrato para desenvolvimento de um novo protótipo com dimensões revisadas e para submetê-lo a testes de verificação de esforços, capacidades, dentre outras características necessárias ao acoplamento do sistema de bombeamento mecânico submerso", disse Iberê Nascentes Alves, da Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Petrobras.
Esta segunda fase foi dividida em três etapas. Na primeira foram fabricados os equipamentos; a segunda, que está terminando, envolve a "caracterização completa" do motor, ou seja, o desenvolvimento de todo o necessário para controlá-lo da superfície; e a terceira, que ainda está em planejamento pela Petrobras e a Poli, será o teste do equipamento em um poço de petróleo propriamente dito, o que vai envolver a construção de um terceiro protótipo.
"Hoje o protótipo que temos funciona com uma carga simulada, que imita o óleo. É lógico que o motor não sabe disso", afirmou Eduardo. Ele acredita que se tudo correr como planejado, o equipamento poderá entrar em produção comercial no prazo de dois anos.
Com o teste de campo, será possível verificar na prática as vantagens econômicas prometidas pelo novo sistema. Iberê Alves diz que ainda é cedo para fazer previsões sobre a economia. "Mas é razoável pensar que a expectativa é animadora", disse.
Segundo Eduardo, a patente do sistema para extração de óleo pertence à Petrobras. No entanto, a patente do motor em si, que eventualmente pode ser usado em outras aplicações, é da USP, dos pesquisadores envolvidos e da empresas Equacional Elétrica e Mecânica, que fabricou o primeiro protótipo.
"Como a Petrobras normalmente não fabrica equipamentos, e acredito que a USP também não, o que provavelmente irá acontecer é que, após a confirmação da viabilidade técnica do sistema, será realizada uma procura e seleção de um parceiro que deverá ser licenciado em termos de patente, e aí sim será possível a fabricação em escala industrial e venda desta tecnologia a terceiros, como qualquer outro método de elevação artificial de petróleo", concluiu Alves.